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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Do Crescimento: Pirulita

 O Pirulito cresceu muito em 1 ano e 4 meses, é fato. Mas se engana quem pensa que só ele tem mudado e que são apenas as demandas e mudanças dele que tem que ser atendidas e eu ir me adaptando. A Pirulita se desenvolve a olhos vistos, com uma percepção de mundo que deus me livre! Tem hora que assombra!

Sua coordenação motora global e fina estão cada vez mais refinadas. Já consegue rodopiar e saltar com graça, escala minha estante em dois segundos, desenvolve estratégias pra conseguir o que quer, coloca ração e água pros cachorros e pras gatas, auxilia em pequenas tarefas junto ao irmão. Também está virando reclamona ("mãe, ele pegou meu brinquedo!") e implicante ("não quero você aqui na sala! Sai!"). Normal, certo? Afinal, o bebê fofinho, gracioso e inerte não existe mais.

Minha filha é inteligente, perspicaz, observadora e questionadora. Nem sempre é fácil conseguir as coisas com ela, pois ela sabe se manter firme numa decisão. Está contando até 20 sozinha, está escrevendo as primeiras palavras (o nome dela, da professora, a data). Gosta de livros e dvds, tem uma capacidade de fantasiar que é bárbara, brinca por longos períodos no quarto, revivendo cenas e histórias do seu cotidiano e daquilo que vê nos filmes. Seus desenhos já tem forma e são estruturados. Sabe identificar fome, sono, raiva, vergonha. Tem uma certa dificuldade em pedir desculpas, mas vem melhorando. Bate de frente com meu marido (e muito), segue amando ser o centro das atenções e tem estado um pouco mais difícil lidar com ela pra mim também. Tem se queixado da escola atual, dizendo com frequência que quer voltar pra anterior. Quando acha que eu estou sendo injusta com meus pedidos, ela me chama de chata.

Estou aqui tentando encontrar as milhares de coisas boas que minha filha tem em si, na sua personalidade e comportamento, mas meu pensamento volta pras minhas dificuldades atuais com ela. Ela está passando pelo que chamo de "adolescência da infância". É o período em que as crianças mais dizem não e mais querem que façamos as coisas que são do agrado delas. Tem sido muito difícil, por exemplo, fazer com que ela ajunte os brinquedos. E olha que nem sou das mais exigentes! Pra mim, basta juntar tudo e enfiar dentro de um cesto que tá tudo certo! Não exijo que ela separe por cor, tamanho, classe, nada! Ela adora pegar tudo o que é miúdo e enfiar numa sacola pra andar por aí, misturando peças de jogos diversos com pequenos animais e apetrechos de bonecas. Eu não me importo e não exijo que ela separe pra guardar. E também não peço que arrume todo dia, é eventual. Deixo que ela ache sua ordem e tempo dentro do quarto de brinquedos. Ela vinha muito bem, mas atualmente ela simplesmente não quer. E haja, conversa e paciência.

Ela fala o não muitas vezes num tom mais agressivo, com caras e bocas, nariz franzido e punhos cerrados. Confesso que isso me irrita. Minhas táticas já passaram pela conversa e estavam culminando em tirar coisas dela caso ela não cumprisse com o esperado. Percebi recentemente que estava começando minhas conversas com ela já na base do "se você não fizer isso, não vai ter aquilo" e isso me incomodou muito. Pensei: "será que o que ela está se queixando é do fato dela sempre perder? Ou será que é minha postura, atitude?". Sim, porque eu sou mandona. Muitas vezes eu falo com o outro sem o por favor, já mandando mesmo. Quase nunca eu percebo isso e eu nem sempre dou abertura pra conversas e questionamentos. Tenho o hábito de dar não sem explicação, pra todo mundo, e geralmente cara feia não me incomoda.

Minha filha tem me dado não. E sem explicação. E tem me incomodado. E muito.



Tenho tentado mudar minha atitude, o que mais tenho feito ao longo do dia é pensar em novas formas de lidar com as situações cotidianas com ela. Durante as semanas que preparei a palestra sobre criação com apego, revi muita coisa que faço e mudei minha forma de abordar e lidar com alguns dilemas. Por exemplo, quando ela está muito frustrada com algo, tento me aproximar e oferecer colo. Se ela aceita, ótimo, se não aceita, eu me afasto, deixo sozinha um pouco e assim que percebo ela mais calma, volto e tento nova aproximação. Geralmente ele aceita na segunda vez, espero ela se acalmar totalmente e aí retomo. Às vezes, ela mesma retoma assim que se acalma, conversamos sobre (de um jeito que uma criança de 4 anos entende) e resolvemos a situação juntas.

Uma das coisas que venho percebendo é que ela não foge do confronto. Ela bate de frente mesmo e se somos mais autoritários, ela se indispõe e não coopera, com nada. Ela não curte ordem no estilo "faça isso agora!". Ela tem um caso de amor com o por favor. Volta e meia eu preciso corrigir minha forma de falar. Já melhorei bastante, o mais comum agora é você me ouvir dizendo "filha, faz um favor pra mamãe?". Normalmente, a resposta vem solícita "claro!". Mas existem os dias do não peremptório e esses dias me tiram o sono.

Enquanto escrevo, tenho consciência de que ela está repetindo um padrão de comportamento meu, ela está me imitando e, também, me denunciando. Tudo o que eu sinto quando ela me dá um não, deve ser exatamente a mesma coisa que ela sente quando eu o faço. Na verdade, o que eu sinto deve ser o que muita gente sente quando eu digo um não curto e grosso.

Minha filha responde bem à educação, compreensão, empatia, carinho, atenção, amor e dedicação. Ela responde bem ao olho no olho, à gentileza. Um não peremptório cai como uma pedra em cima dela e a faz empacar nas situações. O que era pra ser resolvido de forma mais leve, vira um dramalhão. Prevejo muitas portas batidas na adolescência...
 
Acho melhor eu aprender a brincar de bambolê. Só pra ter mais jogo de cintura...

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Um comentário:

  1. Querida me vi mt neste mesmo papel, foi incrivel!!! Ufa, sou normal... rs, amei bjs!♥

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