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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Do Crescimento: Pirulito

"Nossa, mas ele já está andando?!?!?! Da última vez que estive aqui, ele ainda era de colo!". Pois é, meu amigo. Crianças crescem. E na velocidade da luz.

Pirulito conta agora 1 ano e quase 4 meses. Vem se desenvolvendo a olhos vistos e, depois da aquisição da marcha, parece que a coisa está indo cada vez mais rápido. Inevitável comparar, mas em relação à irmã, ele fez as aquisições sempre um pouco depois. Eu mantive em mente de que ele ia fazer o esperado dentro do tempo dele, mas nem sempre conseguia controlar o pensamento puxando pela memória: "Nossa, acho que a Pirulita com essa mesma idade já fazia tal coisa...". Confesso, não sou daquelas mães que marcam tudo, desisti daqueles livrinhos de desenvolvimento do bebê de ambos antes de completar um ano, tenho uma vaga noção de quando as coisas aconteceram com os dois. Confio demais na minha memória de zebra e com esforço, consigo lembrar de uns detalhes absurdos de coisas que aconteceram há zilhões de anos. Baseada nessa informação, sabia mais ou menos o que minha filha tinha feito antes dele.

Eu sempre tive fé que meus dois filhos iam fazer todas as fases de desenvolvimento. Fé ou intuição. E de fato ambos fizeram: sustentaram cabeça, rolaram, sentaram com e sem apoio, ficaram em pé com e sem apoio, arrastaram, engatinharam e andaram. Dizem que as meninas se desenvolvem mais rápido, eu prefiro acreditar que AMBOS se desenvolvem no seu tempo.

O menino arrastou muito tempo. Completou um ano sem engatinhar. No dia do aniversário dele, 11 de maio, desencantou e começou a engatinhar apoiado nos dois joelhos, bonitinho, de gatinho mesmo, perfeito. Eu estava levando numa boa o "momento minhoca" dele, mas a família... Ah, a família! Quanta ansiedade! "Esse menino não vai engatinhar? Precisa engatinhar! Larga mão de ser preguiçoso! Ele é preguiçoso! Ele não engatinha porque ele é grandão e pesado!". U-A-U!!! Só faltou alguém falar preu levar num neuro e avaliar! Difícil, né?

Quando engatinhou, ele já conseguia ficar em pé com apoio (não lembro se ele conseguia se levantar sozinho do chão), então as cobranças de que ele andasse começaram logo. Todos ansiosos, eu repetindo meu discurso: "Ele vai andar no tempo dele, quanto mais ansiosos vocês ficarem, mais ele vai demorar...". Mas, prá quê falar, né? Normalmente a mãe é ignorada... Só que não. Eu comecei a ser meio grossa e cortar logo quem vinha com as cobranças. E, gente, ele nem demorou tanto assim pra andar! Se engatinhou em 11 de maio, em 11 de julho já estava andando pequenos espaços. Hoje, ele foge da gente em volta da casa. E tem uma energia que não é pra qualquer um.

Uma coisa que sempre ficou claro pra mim é que uma criança não faz duas aquisições ao mesmo tempo. Explico: ou aprende a falar ou aprende a andar, as duas coisas nunca acontecem simultaneamente. E meus dois filhos começaram a emitir pequenas palavras cedo. Com um ano já falavam mã, pá, bó, bô e nana (mãe, pai, vó, vô e ana). O Pirulito em específico falava puquê e agora fala si (porque e sim). Juro pelos deuses de todos os panteões! Teve até uma amiga que o viu esse fim de semana e ficou impressionada dele falar o sim. Engraçado que o não ele de fato não fala, apenas meneia a cabeça vigorosamente, mas o sim ele fala. E é a coisa mais engraçada desse mundo! Ali perto de um ano, ele empacou no mã, pá, bó, bô, nana. Adquiriu um tio meio no susto e a gente reforçou, mas não fez novas aquisições verbais. Aí aprendeu a andar. Malemá aprimorou a técnica, começaram as novas aquisições verbais. O si veio nessa leva, junto com o qué, aul (Raul, nosso cachorro), auau (na fase genérica: tem quatro patas, é auau), é? (assim mesmo, entonação interrogativa), alô, hoje saiu um quem é. E assim seguimos.

Interessante é que ele aprendeu a escalar simultaneamente ao andar. Ele sobe e desce sozinho do sofá da sala. Se fosse só o sofá, vá lá. Mas ele escala os braços e o encosto. Isso eu tenho certeza de que ele aprendeu antes da irmã. E sabe por que ele aprendeu antes? Porque ele tem exemplo! Pirulita teve que se virar nos 30 com sua condição. Ele observa e faz. A irmã fica em pé nos braços do sofá pra colocar no alto da estante o que ele não pode pegar dos brinquedos dela. Adivinha? Ele observou os movimentos da irmã, tentou umas vezes e logo estava de pé no sofá. De pé nos braços do sofá. De pé no rack, apoiado na tv, tentando pegar os dvds da irmã que estavam no alto dela. De pé no braço do sofá, apoiado na estante, tentando pegar os brinquedos da irmã e meus livros. Ok, viramos os sofás com as costas pra sala (é, ninguém mais senta na minha sala), na esperança de que ele demorasse umas semanas pra aprender a subir pelo braço. Adivinha? Viramos ontem e hoje ele simplesmente subiu. Pelo braço. Que era pra ele aprender só daqui um mês. Ou seja: voltamos a estaca zero.

As pessoas, meu marido incluso, me dizem que ele é mais levado. Primeiro lugar: odeio a palavra levado. Segundo lugar: ele não está fugindo dos padrões da irmã. Ele pode estar um pouco mais rápido do que ela porque tem o exemplo. Ele tem compania pras brincadeiras, um chama o outro pras bagunças (e eles bagunçam), ele tem interação com outra criança. Em outras palavras: ele vai ser mais ativo e atípico (se usarmos como parâmetro o desenvolvimento da irmã). Mas não levado. Ele não faz nada de diferente do que a irmã fazia: tira todos os brinquedos do lugar e não devolve, esparrama tudo pelo chão, joga ou larga tudo o que perde o interesse, abre todas as gavetas e armários, tira tudo o que tem dentro, mexe na gaveta de tampas de panelas e na de talheres também, mexe nos meus temperos, vira a água dos potes dos cachorros, esparrama a ração das gatas (quando não come), sobe no rack. Só pra citar: Pirulita caiu de cima do mesmo rack que ele escala com 1 ano e 6 meses. Meu filho não é levado. Ele é tão normal quanto a irmã.

Penso que as pessoas têm dificuldade em lidar com meus filhos juntos, pois é exigente mesmo. Ambos são interativos, expressivos e comunicativos. Ambos gostam de ter atenção exclusiva. E que criança não gosta? E fica mais fácil falar que ele é levado (difícil, fução, reclamão, chorão, pidão, inclua aqui o que achar mais adequado) do que dizer que é difícil lidar com os dois ao mesmo tempo, é mais fácil culpar o caçula, afinal, ele exige mais fisicamente. Sim, com 4 anos, a irmã entende um não e seus porquês. Ele, com um ano, não entende. E aí entra a exigência física: se ele escalar o sofá 3500 vezes, 3500 vezes alguém vai ter que tirá-lo do perigo e explicar que machuca. E haja, coluna e paciência.

Por fim, o afeto também vem sendo bem desenvolvido. Tenho um garoto que demonstra carinho, pelas pessoas e pelos animais. Ele adora colo, se vê o sling ou eu o ofereço, logo quer estar dentro, se aconchega e fica grudadinho. Adora dormir junto, o cochilo da manhã precisa começar no colo. Ele fica muito feliz quando a irmã o inclui na brincadeira, sempre vejo ele se aproximando dela, deitando no colo, abraçando, passando a mão no cabelo (ou pelo menos tentando). Ele fica esfuziante quando ela chega da escola, ela divide a comida com ele e sempre dá escondido o que eu não o deixo comer (tipo sorvete). Ela quer trocar fralda, dar banho, deitar junto. Sempre dá um beijo e um abraço de tchau antes de sair pra escola. Ele, por sua vez, retribui chorando litros quando ela se vai. Ele mostra a foto dela no quarto e repete o nome, incansavelmente, até eu me aproximar da mesma e deixá-lo tocar.

Ele fica esfuziante quando os avós ou o tio chegam, fica de coração partido quando eles vão embora. Ontem mesmo ele quase teve um treco porque meu irmão se aproximou da porta pra sair e não disse tchau. Ele fica sentido quando a gente fala um pouco mais alto ou rispidamente. Ele odeia ficar sozinho (que criança não odeia?). Adora assistir Valente, mas Hello Kitty não chama sua atenção, assim como Thomas e Barney também não (abençoado seja!). Sabe ligar, desligar, abrir e fechar o dvd, assim como aprendeu a destravar meu celular (não me pergunte como, só sei que ele sabe).

Não tenho mais um bebê em casa. Tenho um molequinho.

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