Recentemente estive acompanhando uma discussão que surgiu num dos grupos que participo no FB. Essa discussão teve origem em cima de um texto escrito por uma blogueira que questionava as mães conscientes e ativas, que também são blogueiras e ativas em diversas redes sociais. Não lembro o grupo, não lembro o texto, não lembro a autora. Cansei de procurar e não achei. De qualquer forma, o texto e quem o reproduziu no grupo (que NÃO foi a autora, fique bem claro) levantou mais uma vez a velha discussão do menas mãe. Nunca tive saco pra essas discussões, acho vazias e sem sentido, mas dessa vez vou me manifestar.
Pra
começo de conversa MENAS NÃO EXISTE!!!! Aurélio, por favor, em todos os seres
humanos que usam o MENAS. É absurdo, ridículo,tanto que já virou piada na rede.
Dito isso...
Acredito
que aquelas que usam o argumento do “não sou menos mãe porque...” (acrescente
aqui o que você ou aquela sua amiga próxima ou conhecida costuma usar como
proposição) apenas estão demonstrando as dificuldades que elas próprias têm em
lidar com questões pessoais. E arrisco dizer que essas questões fogem da esfera
do consciente, resvalando para o inconsciente.
Todas
nós nos cobramos acerca do nosso desempenho como mães, todas achamos que
podemos fazer mais e melhor (bom, EU pelo menos me cobro). Mas esbarramos numa
coisa chamada realidade. E com realidade quero me referir não só ao ambiente,
mas também às nossas questões individuais e intransferíveis, às nossas
limitações. E não se enganem, todas temos limitações.
E
o grande xis é que aquilo que incomoda no outro normalmente é um ponto cego
nosso. É mais fácil acusar o outro de algo do que nós assumirmos a nossa
responsabilidade ou dificuldade sobre a coisa. Vou dar um exemplo: eu sou
obesa, preciso emagrecer. É mais fácil eu dizer que minha amiga que está se
esforçando pra perder peso é uma escrava da beleza e da vaidade, que eu já
passei dessa fase, que ela é mais nova e não tem filhos, do que eu simplesmente
assumir que eu tenho uma baita preguiça de fazer reeducação alimentar e que não
tô afim disso agora. É mais fácil eu agredir quem teve a coragem de assumir
algo do que eu mesma assumir. É mais fácil agredir quem tenta outro caminho do
que eu mesma tentar fazer um caminho novo.
Escolher
um novo caminho requer disposição, peito, coragem. Porque vão surgir percalços,
opositores, questionamentos. Vão surgir incômodos. E nem sei se é por pensar
fora da caixa, eu ainda credito que é porque toca na ferida do outro.
Fiz
uma oficina de carregar bebê em junho e comentei com a oficineira que percebo
um grande desconforto em muitas pessoas do meu convívio quando vêem meu filhote
no pano. Ela me falou algo que fez muito sentido: ver um bebê tão próximo da
mãe, num contato tão íntimo, abala quem não teve colo, quem não teve pele-a-pele.
Abala porque mostra a falta, toca num ponto nevrálgico. Pensei em algumas
pessoas que se incomodam e, nossa!, é isso mesmo. Acho que a história do ser
menos mãe passa por aí: as faltas que tivemos enquanto filhos, as escolhas que
fizeram por nós enquanto bebês, tudo o que fomos privados ou não ao longo do
nosso crescimento.
Particularmente,
tive um momento menos mãe, que aconteceu logo depois do nascimento da minha
primeira filha, nos meus primeiros contatos com o universo da maternidade ativa
e consciente. Pensava “não sou menos mãe porque minha filha chupa chupeta”,
“não sou menos mãe porque minha filha já foi desmamada”, “não sou menos mãe
porque minha filha tem alimentação complementada desde os 10 dias de vida”. Mas
deixei de pensar quando caiu a ficha de que eu tinha escolhas e opções. E mesmo
que tenha sido por falta de informação, EU fiz uma ESCOLHA: eu levei a chupeta
pra maternidade mesmo tendo a orientação de que não era recomendado, eu não
insisti na amamentação e eu acatei o que a pediatra me falou sem questionamento
nenhum e dei o complemento. Boas escolhas ou não, mas MINHAS escolhas. O que me
moveu? Medo, insegurança, falta de informação, preguiça, todas as anteriores?
Provavelmente, mas tem um componente muito pessoal aí, que eu não soube lidar
naquele momento.
Antes
de cair nessa chatice de discussão sem fim, é preciso parar e pensar no que
incomoda no comportamento do outro, nem que seja pra concluir que aquilo que
incomoda é o fato do outro alardear pros quatro cantos o que faz ou deixa de
fazer, porque o incômodo pode ser apenas esse (por que não?). É difícil o
convívio com quem se acha dono da razão, com quem se gaba das coisas, pode se
tornar irritante.
Porém,
se a conclusão ruma pra outro lado, vale a reflexão, um olhar mais profundo e
empático consigo mesmo e a coragem pra assumir as escolhas, sejam elas quais
forem. Se te incomoda a mãe que amamenta uma criança de 3 anos, por que te
incomoda? É algo seu ou algo que veio do meio? É a demonstração de carinho, a
entrega da dupla, a intimidade? E por que uma criança dessa idade não pode ter
esse tipo de intimidade com a mãe, esse tipo de carinho? E a mãe, por que ela
não pode dar o peito se ela quer, se ainda tem leite, se ela gosta? Te incomoda
a defesa do parto normal? Por que?
Muita
gente não vai concordar com o que escrevi. Sem problemas, até porque o que eu
defendo requer coragem, pois obriga a olhar pra si mesmo. Isso quase ninguém
quer. É um círculo vicioso: você faz diferente, isso me incomoda, não sou menos
mãe por fazer de outro jeito, mas você faz diferente, isso me incomoda, não sou
menos mãe por fazer de outro jeito, mas você faz diferente... Ad eternum.
Minha
sugestão: antes de cair numa discussão que não vai te levar pra lugar nenhum e
não vai acrescentar nada útil na sua vida, quebre o círculo: você faz
diferente, isso me incomoda, POR QUE? Questione-se, conheça-se e se torne, de
fato, uma mãe melhor pro seu filho.

O trabalho Menas Main de Elaine Miragaia foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
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Como sempre! Muito boa em palavras e argumentos!
ResponderExcluirAdorei o texto!
ResponderExcluirSensacional, Elaine! Trata-se de um trabalho (nada fácil) de autoconhecimento, tolerância e aprendizado: POR QUÊ?
ResponderExcluirEscrevi sobre isso na semana passada:
http://maeperfeita.wordpress.com/2013/07/30/culpa-zero-menos-mae-e-outras-asneiras-analise/
Um beijo,
Marusia
Perfeito
ResponderExcluirPerfeito!!!!!! vivo isso todos os dias! tudo o que eu tenho feito tem incomodado algumas pessoas... coisas do tipo: Seu bb ainda dorme com vc? vai acostumar mal... vc ainda dá de mamar? mas ele já tem 1 ano... por que vc nao coloca ele numa creche? ficando com vc ele vai ser muito dependente...
ResponderExcluirAs pessoas realmente deveriam olhar pra si mesmas e descobrir porque isso as incomoda tanto...
Parabéns, excelente texto!
bjs
Excelente texto. Muito boas as colocações. Que tal olharmos mais para a gente não eh mesmo?
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