Há 3 anos eu tenho o blog. Ele foi crescendo aos poucos e hoje tem um bom número de acesso e leitores. Durante longo tempo eu escrevi como Lã*, depois como Elaine*. Recentemente assumi o Elaine Miragaia, nome e sobrenome. Até então, eu sabia que meus contatos do FB eventualmente liam meus textos e também sabia que, depois do Projeto 31 em 31, mais gente começou a acessar e passar o link adiante. Mas, era muito virtual tudo isso.
Recentemente descobri o poder e o alcance da minha palavra. Estava eu divulgando o grupo de apoio que estou iniciando em minha cidade e uma moça que me ouviu falando com a vendedora me abordou, pois despertou seu interesse. Ela pegou meu nome e o contato. Dias depois, fiz uma degustação do grupo e ela foi uma das presentes. Conversa vai, conversa vem, ela me diz que achou meu blog. E que leu ele inteirinho. U-AU! Isso foi impactante, pois até ali, ela era uma desconhecida. Mas, um texto que escrevi há tempos deixou-a confortável pra dividir sua experiência de amamentação, pois ela se identificou com minha fala.
Naquele texto, falava da experiência de amamentação com minha primeira filha, que infelizmente não foi das melhores. Ao ouvir essa mulher, percebi a responsabilidade que eu tenho diante das pessoas que eventualmente chegam até mim, ainda mais porque agora é só jogar meu nome no Google que qualquer um chega aqui. E agora eu estou com um grupo de apoio materno na cidade. Vejo-me, então, na RESPONSABILIDADE SOCIAL em falar da minha segunda experiência, ainda mais porque estamos na Semana Mundial de Aleitamento Materno. Em seguida, publico com autorização da Anna Gallafrio um texto escrito por ela acerca do mesmo tema, que faz muito sentido nas minhas duas experiências de amamentação e que acredito que seja familiar a qualquer mulher que tenha amamentado minimamente.
Amamentar dessa segunda vez teve dois pólos extremos: um logo no início e o restante do tempo. O logo do início foi fator meramente emocional e de estresse. Depois de todo o balaio de gato que foi o não parto, obviamente meu leite não descia. Pirulito pendurado no meu peito, chorando e sugando, as enfermeiras entrando insistentemente no meu quarto, eu só chorava, uma dor no corpo que nunca senti antes, minha mãe junto, preocupada com o panorama geral da coisa... Foi assim que a história começou. E eu retomava tudo o que tinha sido ruim pra mim da primeira experiência. Finalmente recebi alta e fui pra casa da minha mãe. Mas nada do leite. E ele lá, pendurado, chorando, dormindo de exaustão (hoje, depois de ver essa foto bem ilustrativa do quanto de leite cabe no estômago de um bebê de um dia, penso que se estava saindo algo, foi suficiente). Finalmente, na segunda à noite, o leite desceu. E aí as coisas mudaram de figura.
Ele sempre teve uma pega boa, sempre fez a boca de peixinho direitinho, sempre teve mais força do que a irmã na sucção. Apesar das dificuldades que existem mesmo, foi consideravelmente mais fácil amamentá-lo. Eu conseguia amamentar deitada, o que no frio de maio/junho já é uma grande coisa, ele dormia no meu peito e largava, nunca foi de chupetar. Também fui pro Hades e voltei com ele, mas a descida foi menos cheia de minhocas porque eu já tinha uma experiência anterior de puerpério e também mais conhecimento, mais leitura, mais informação. Passado o caos inicial, eu conseguia parar e pensar nas coisas, analisar, me perguntar porque isso ou aquilo estava sendo dessa ou daquela maneira.
Não vou dizer que eu gritei por ajuda aos quatro ventos porque eu não gritei. Não faz meu estilo. Sim, tem um pouco de dificuldade de assumir fraquezas, um tanto de orgulho, mas acho que o que manda é um medo muito grande de me expôr e ser julgada. Mais uma vez, segui meus instintos. Porém, dessa vez, meus instintos estavam mais apurados e eu mais confiante.
No meu caso, acredito que muito do que eu fiz (e faço) com ele em termos gerais, tem muita relação com nossa experiência de nascimento. Tem muita relação com o trabalho de parto e toda a enxurrada de hormônios que circulou no meu corpo naquelas 12 horas. Eu me sinto muito mais confiante em tudo o que faço com ele e me senti mais confiante na amamentação. Cometi deslizes com ele também, por puro desespero, ansiedade e me arrisco a dizer que por momentos de falta de crédito em mim mesma. Contraditório, né? Mas fato é que, não é porque eu me sinto mais confiante dessa segunda vez que eu não tenha momentos de insegurança. Tenho muitos. E às vezes eu peco por eles.
Eu não consegui deixá-lo em amamentação exclusiva durante seis meses. De novo, minha responsabilidade, minha ansiedade, meus medos. Mas também não segui o que a médica mandou. Lembro que ela sugeriu introduzir frutas amassadas com uns 4 meses, mas eu não introduzi. Minha lógica foi: não senta, não tem condição de deglutição de alimentos sólidos. E fim de conversa.
Eu voltei pro consultório ele tinha 3 meses. Então, à tarde, ele ficava na mamadeira, normalmente uma mamada, às vezes duas. Ele ficava nesse esquema três meio períodos na semana. Suas mamadas no seio não foram modificadas no restante. Ele acordava regularmente à noite pra mamar, tinha dias que eu não conseguia tirar o pijama diante da exigência dele e da irmã (ele de peito, ela de atenção). Minha mãe muito se incomodou de não poder levá-lo com ela pois ele dependia do meu leite.
Alimentava o desejo escondido (vai ler o texto que linquei lá em cima e você vai entender o porquê do escondido...) de poder amamentá-lo até um ano, pelo menos, mas isso não aconteceu. Ele desmamou antes. Se eu tivesse adiado mais um mês minha retomada de consultório, será que eu teria ganho mais um mês com ele no peito? Não sei. Se eu não tivesse introduzido mamadeira talvez ele ainda estivesse no peito? Talvez.
Às vezes me pergunto se poderia ter sido diferente se tivesse recebido mais apoio. Eu não sei, até porque eu realmente não identifiquei que tipo de apoio talvez eu precisasse naquele momento. Eu sou ansiosa, tenho necessidade de controle, talvez se tivesse alguém pra fazer os serviços domésticos nesse período fosse um baita apoio. Talvez se eu tirasse licença-maternidade de seis meses. Honestamente, não sei. E também não sei se é útil agora que ele desmamou eu ficar remoendo isso tudo.
Eu ainda prefiro acreditar que ele desmamou porque deu nosso tempo, principalmente porque comigo as coisas funcionam num ritmo meio esquisito, mas meu. Eu juro que me esforço cotidianamente pra fazer tudo e mais um pouco no ritmo das crianças, mas nem sempre eu consigo. Eu conto os macacos devagar, eu molho os pés antes de entrar no mar, eu encosto o lábio no chá quente antes de dar a primeira golada. Depois eu me jogo. No fim das contas, eu me jogo, de corpo alma e coração. Eu sempre experimento antes, eu sempre testo a hipótese.
Eu ainda prefiro acreditar que ele desmamou porque deu nosso tempo, principalmente porque comigo as coisas funcionam num ritmo meio esquisito, mas meu. Eu juro que me esforço cotidianamente pra fazer tudo e mais um pouco no ritmo das crianças, mas nem sempre eu consigo. Eu conto os macacos devagar, eu molho os pés antes de entrar no mar, eu encosto o lábio no chá quente antes de dar a primeira golada. Depois eu me jogo. No fim das contas, eu me jogo, de corpo alma e coração. Eu sempre experimento antes, eu sempre testo a hipótese.
Foi maravilhoso amamentar meu filhote, meu Pirulito, meu Zinho. Resgatei a experiência, amamentei em público e até coloquei como foto de capa do meu FB nessa semana a irmã pendurada no meu peito (uma das únicas que eu tenho, diga-se de passagem!). Isso tudo eu devo a eles, aos dois. De uma mãe assustada e amedrontada na primeira cria, rumamos agora pruma índia, com todo bom sentido do mundo.
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