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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Mulher e Selvagem



Existe um livro chamado "Mulheres que Correm com os Lobos: Mitos e Histórias do Arquétipo da Mulher Selvagem", cuja autora é a Clarissa Pínkola Estés. Esse livro me toca a alma profundamente e é uma das mais utilizadas e potentes ferramentas de trabalho que eu possuo atualmente.

Tive a oportunidade de trabalhar com alguns grupos de mulheres histórias dessa autora, não só as desse livro, mas de outros também. Foram experiências maravilhosas, mas confesso que nenhum outro livro da Clarissa me comove e mobiliza tanto quanto o MQCCL. Ele é uma das minhas grandes paixões, carrego-o pra todo lado e cada vez que eu o leio, mais e mais grifos vão surgindo nele, assim como minhas anotações e insights em suas laterais. Tenho muitas e muitas frases copiadas em diversos cadernos perdidos pela casa, já transformei citações em lembranças de aniversário e marcadores de livros.

Acredito que essa relação seja tão intensa pelas histórias que ele contém. E pelo poder de cada uma delas. Eu amo histórias. Possuo uma profunda relação com elas desde que eu me entendo por gente. Minhas lembranças mais remotas são do meu pai me contando mitos e da minha avó materna me contando os causos da fazenda. Histórias sempre me mobilizam.

Essa é uma função das histórias: mobilizar. Também confortam, mostram caminhos, ensinam e aprendem através das idéias que constelam. Transmitem e comunicam o que é de essencial importância à alma humana, criando uma espécie de encantamento naquele que a escuta. Contar uma história é cantar sobre algo, para soltar o que está dentro e criar. Na definição de Clarissa Pínkola Estés, "(...) Cantar significa usar a voz da alma. Significa sussurrar a verdade do poder e da necessidade de cada um, soprar alma sobre aquilo que está doente ou precisando de restauração. Isso se realiza por meio de um mergulho no ponto mais profundo do amor e do sentimento" (pág.45).

A mesma Clarissa ainda pontua que histórias são bálsamos curadores. E exatamente por isso, acredito que essas histórias precisam ser passadas adiante, da forma mais intensa e dedicada possível, principalmente entre mulheres, pois todas nós compreendemos as palavras mulher e selvagem de forma intuitiva, primitiva, não importa a cultura pela qual somos influenciadas.

"Quando as mulheres ouvem essas palavras, uma lembrança muito antiga é acionada, voltando a ter vida. Trata-se da lembrança do nosso parentesco absoluto, inegável e irrevogável com o feminino selvagem, um relacionamento que pode ter se tornado espectral pela negligência, que pode ter sido soterrado pelo excesso de domesticação, proscrito pela cultura que nos cerca ou simplesmente não ser mais compreendido. Podemos ter-nos esquecido do seu nome, podemos não atender quando ela chama o nosso; mas na nossa medula nós a conhecemos e sentimos sua falta. Sabemos que ela nos pertence; bem como nós a ela." (pág.19)

Acreditando nisso, criei um projeto composto por uma série de workshops que utilizam as histórias do livro MQCCL. Esse projeto se chama Em Busca da Mulher Selvagem e seus workshops são vivenciais, pois incluem atividades artísticas. Estas são interessantes pois atuam de forma sutil, trazendo ao encontro daqueles que participam a criatividade e a experimentação, além de conferir prazer, criar opções e mostrar alternativas. Criar algo após entrar em contato com a história facilita a internalização e o entendimento da mensagem transmitida, unificando ouvinte e conto. Levar consigo o que foi criado é ter um lembrete vivo da experiência.

Em Busca da Mulher Selvagem terá seu primeiro encontro em Bauru/SP, no Jardim de Om, gentilmente cedido pela Denise Cardoso. Contarei com Bianca Lanu como parceira-artesã e o primeiro conto que apresentarei será "Vasalisa, a Sabida", de origem russa.

Então, se você está aí em Bauru ou nas redondezas, não deixe de comparecer, é imperdível.


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O trabalho Mulher e Selvagem de Elaine Miragaia foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.

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