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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Mãe é Foda!!

 

Essa semana que passou, estive conversando com uma amiga muito querida que acabara de se desentender com os pais. Na faixa dos 20 e poucos anos, ela mora com eles. E, diante de uma situação exposta envolvendo a mãe, me vi falando: "mãe é foda!". Assustei-me comigo mesma porque, gente, EU SOU MÃE TAMBÉM!!!

Fiquei encafifada com isso. MUITO encafifada. Coloquei-me no lugar da minha amiga e lembrei de vários atritos que já tive com minha mãe por motivos diferentes. Lembrei-me das diversas vezes em que fiquei ofendida ou chateada com ela, tentando contabilizar em seguida quantas tantas outras vezes eu devo tê-la deixado ofendida, chateada, passada e puta. Porque se tem dois seres humanos que são capazes de emputecer um ao outro são mãe e filho. Vai dizer que não?

Eu não quero psicologizar o assunto, mas toda mãe tem a mãe boa e a mãe má dentro de si. São dois aspectos do mesmo arquétipo, o da Grande Mãe. A mãe boa é aquela que nutre, alimenta, acalenta, dá colo, cuida, acarinha. A má é aquela que afasta, pode ser ríspida, impaciente, esquiva, irritadiça, rígida, até mesmo cruel. Põe a mão na consciência: quantas vezes você já não vivenciou esses dois aspectos com sua mãe? E quantas vezes você, mãe, já não desempenhou esse papel com suas crias? Nem vou ser hipócrita em dizer que nunca caí nas sutilezas da Grande Mãe: eu vivo caindo, tanto como filha quanto como mãe.

Como mãe, temos a incumbência de educar os filhos. Tentar passar a eles aquilo que julgamos ser adequado e útil pra vida. Vivemos em busca do acerto, visando o melhor pros rebentos. Durante um bom tempo, seguimos à risca o que os pais nos falam, seja no papel de filhos, seja no papel de pais. Depois de um tempo, começamos a desafiar as regras e testar um monte de limites, pois precisamos nos diferenciar de mãe (e de pai também) e encontrar um caminho e forma de fazer as coisas que sejam só nossas.


Muitas coisas que fazemos com nossos filhos esbarram em nossas próprias dificuldades e possíveis traumas ou pontos-cegos.  É preciso um constante olhar pra dentro e pra si mesmo. Também é um olhar pro outro. Costumo dizer que é descentralizar pra centralizar (ou vice-versa): você olha pro seu filho e pra reação dele, pro sentimento dele, e depois olha de volta pra você mesma, buscando o que te moveu a fazer aquilo ou o que você está sentindo diante daquilo. Não é tarefa fácil. Requer ovários e dos mais resistentes.

Aprendemos com nossas mães a forma de nos relacionar com os filhos. Não só com elas, mas com os pais também. De qualquer forma, quando perdemos as estribeiras com um filho ou quando ofendemos, muito provavelmente estamos reagindo inconscientemente, de forma semelhante a que fomos tratados no passado, quiçá na situação similar. Por isso, mãe é foda!

Com ela está o poder de deixar marcas, positivas ou não, conscientes ou inconscientes. Ela também é formadora do nosso psiquismo, forte influência da forma de atuação e relação do filho. Não posso falar pelos outros, apenas por mim, mas até hoje me vejo às voltas com situações delicadas envolvendo minha mãe. E tenho certeza de que muitas vezes ela nem mesmo percebe que está agindo da forma que age, pois é um quebra-cabeças extremamente intrincado esse da relação mãe-filha.

Ela me percebe como adulta e mãe, mas simultaneamente, eu sou sua filha. Ao longo da vida, sua principal função foi orientar, mostrar um caminho, uma direção e uma forma de fazer as coisas. Durante muito tempo, eu segui essas instruções. Volta e meia, corro pra ela em busca de orientação quando não tenho certeza do que fazer. Porém, eu sou adulta e mãe. Minha função, agora, é a de orientar, educar, mostrar um caminho, direção e forma de fazer as coisas. Eu já encontrei a MINHA forma de ser e atuar, mas ainda assim tenho muito dela em meu ser, assim como tenho da minha avó, bisavó e tataravó. Pois elas estão no DNA familiar. Resquícios de suas personalidades estão em todas as mulheres da família e vão se perpetuar ao longo dos anos. Estão no inconsciente coletivo desse núcleo.

 

Talvez por ser filha, muitas vezes eu abra espaços pra minha mãe atuar de forma mais intensa como tal e, sem que eu perceba, logo ela está dando pitacos na minha rotina de afazeres domésticos. Quando caio em mim, me distancio. Porque aqui na casa da Família Tralha quem manda somos eu e meu marido. Se ela falou algo como mãe é porque eu saí do meu papel de mãe, igual a ela, e voltei pro meu papel de filha, que recebe "ordens" da mãe e repete as coisas na mesma ordem e sequência. Eu consigo perceber isso, mas tem muita gente por aí que não percebe e quando se dá conta, já está numa relação de igual com os filhos.

Dizem que as coisas e pessoas têm o poder que damos pra eles, mas as mães têm um poder perigoso em mãos. Com elas está a gênese do amor e em nome dele, muitas "tosquices" são feitas (gente, tô com sono, já não acho mais o rumo nem as palavras). É foda.

(Em tempo: sim, eu AMO Gilmore Girls e tenho todas as temporadas. Minha gata mais velha se chama Lorelai por causa delas).

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2 comentários:

  1. Adorei o seu post eu tenho uma relação complicada com minha mãe e quero fazer tudo diferente com meu filho. Quero ser amigona e companheira.
    Mãe Vaidosa
    Bjks

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  2. Juro que o que ela escreveu me faz lembrar dos meus pensamentos como mãe e filha. É complicado ser os dois... e como muitas vezes nossas mães se esquecem de que nós agora somos mães e continuam com aquele jeitinho de protetoras e acalentadoras.

    Colo de mãe é tudo de bom... pras horas difíceis sempre é nosso conforto.
    E um dia, será o nosso colo requisitado, não é gostoso isso?

    Beijinhos
    Karin

    #recantocomenta

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