“Para mudar o mundo é preciso, primeiro,
mudar a forma de nascer.” (Michel Odent)
Eu entrei na maternidade
perdendo um filho, era 2007 e estava com nove semanas de gestação. Eu queria
muito aquele bebê e sofri muito com a perda. Por um ano tentei engravidar
novamente e não conseguia, pura ansiedade, que, aliás, é meu sobrenome. Em 2008
engravidei, meu sonho de virar mãe estava realizado.
Foi uma gravidez super
tranqüila, sem problema algum, nenhum, zero. Sempre quis o parto normal, assim
como qualquer mulher, mas morava na Matrix, não sabia nada de parto e estava
muito ocupada preparando o enxoval, quarto, com as cores dos puxadores da
cômoda. Pra mim, o parto aconteceria naturalmente, porém estava com o obstetra
mais cezarista de SJC. A cada 10 nascimentos, bom, 10 era cesáreas. Com 39
semanas e cinco dias, ansiedade a mil e zero de dilatação. Meu obstetra me
disse que talvez eu não conseguisse parto normal, que o colo estava super
fechado, que minha filha poderia entrar em sofrimento fetal, bom, soma-se ansiedade
a mil + apoio total do médico + várias indicações de cesárea (só que não) =
faca.
Angelie nasceu dia 28/07/09, em
um lugar gelado, com uma mãe cheia de medo... Lembro dos médicos falando sobre
um congresso enquanto me costuravam (hellooooo, acabei de ter bebê, cadê à
atenção? Cadê o carinho?) Ficamos 5 horas longe uma da outra, ela chorou por 2
horas sem parar no berçário enquanto tomava injeção, enquanto sofria
intervenções desnecessárias, um trauma que nunca vou esquecer. A cicatriz está
aqui na barriga, na alma.
Em 2012 engravidei novamente.
Conversei com meu esposo e perguntei:
- Como esse bebê vai nascer?
- Cesárea, não é? Uma vez
cesárea...
Fui dormir super incomodada,
não queria ser cortada, não queria passar por essa vida sem parir, não queria
que minha filha sofresse como a irmã ao nascer. Na época, uma amiga querida de
Campinas, Talita, estava grávida e freqüentando um grupo com orientação ao
parto natural, outra amiga no Canadá, Paloma, tinha acabado de ter um bebê com
parteira. É engraçado como uma conversa pode te transformar.
Comecei a ler, me informar,
estudar, questionar e fui saindo da Matrix. Encontrei a Flavia Penido, doula,
troquei de médico e fui levando mais uma gravidez super tranqüila.
Eis que chega minha DPP,
19/01/13, sem sinal da Alice querer nascer. Tive contrações de Braxton Hicks
desde há 23 semana. Ansiedade a mil, só que agora estava preparada. Fiz meu
marido marcar férias para o dia 04/02, quando terminava minha 42 semana, eu
sabia que eu teria que esperar. Comecei os rituais para animar a Alice nascer,
chás, hots, caminhadas, agachamentos, tudo que podem imaginar e NADA. Dia 23/01
eu escrevi uma carta a ela e dia 24/01 começaram os pródomos. Nossa, como doeu
e eu nem imaginava o que estava por vir. Cada noite que passava eu achava que
Alice viria, não dormia mais deitada, só sentada, na sala esperando a próxima
contração que vinha cada vez mais forte, cada dia mais forte. Dia 26/01 passei
o dia todo com contrações, fui ao Outback à noite e as contrações vinham a cada
10 minutos, achei que Alice nasceria ali, comigo comendo cebola. Na madrugada
do dia 27/01 as tão sonhada, esperada e desejada contrações vieram. Quando
amanheceu o dia, as 06h00min da manhã, eu contei contrações a cada 5 minutos,
acordei meu marido e contamos por mais 1 hora. Meu coração tava a mil, estava
super feliz, tinha chegado minha hora. Ligamos para a Débora, doula, que logo
chegou em casa. O
dia foi passando e as contrações ficando cada vez mais fortes. Graças a Deus
pelas doulas, a Débora foi um anjo na minha vida, minha analgesia, não sei o
que faria sem ela. Ligamos para a enfermeira Patrícia que logo veio checar a
dilatação, 3 cm.
Nossa, tantas horas e isso. A Patrícia também foi um anjo, como me ajudou, ela
voltou mais umas 2 vezes. A última vez que ela veio foi as 22h00min e estava
com 7 cm.
Fiquei em casa até as 03h00min da manhã, fiz vários exercícios para tentar
dilatar mais. Achava que estava super consciente, mas entrei e saí da
partolândia várias vezes.
Chegamos ao hospital as 04h11min,
logo chegou a Dra. Juliana Paola, que checou minha dilatação e estava com 8 cm. Esses últimos
centímetros foram os mais difíceis, não queria mais nada, não queria que me
tocassem, queria ir embora, queria dormir, queria minha filha. O engraçado é
que eu sabia que a jornada seria longa, eu sabia que meu trabalho de parto
seria trabalhoso, afinal, eu tinha muitas sombras para enfrentar. Eu tava
parindo duas filhas, eu tava lavando minha alma.
Em algum momento eu pedi que
a Dra. Juliana estourasse minha bolsa. 2 cruzes de mecônio, mas eu sabia que
tava tudo bem, a Alice queria tudo isso tanto quanto eu.
Lembro de estar sentada,
levantar e não sentir mais nenhuma contração. Lembro de me sentir bem disposta
e sentir vontade de ir ao banheiro. Todos levantam e começam a me levar pra
água. Eu paro novamente e falo: - Ela vai nascer, to sentindo a cabeça dela
descer, cadê o Juliano? Logo meu marido entra no quarto, eu entro na água, faço
4 forças e Alice nasce. Foi surreal, foi maravilhoso. Eu tinha tanto medo do
expulsivo por causa do bendito círculo de fogo, mas foi tudo melhor que
imaginava.
Diferente da irmã, que sofreu
ficando longe de mim, que chorou muito ao nascer, Alice nasceu sorrindo, sem
chorar, foi direto para meu peito, sem sofrimento, sem violência. Foi nesse
momento que eu senti o tempo parar, não ouvia nada, não sentia mais ninguém no
quarto, só minha filha e eu, foi então que em um esforço ela abre os olhos e me
olha, tudo que sempre sonhei, meu imprinting.
Passado tudo, fiquei sozinha
no quarto com Alice para descansar, sentia a ocitocina pulsar dentro de mim,
tava tão feliz que minha vontade era sair gritando pelos corredores do hospital
de felicidade. Sentia-me uma deusa, uma guerreira. Tava realizada, de alma
lavada.
Parir, pra mim, foi muito
além do que colocar minha filha pra fora de mim pela minha vagina, parir, pra
mim, foi uma descoberta do meu corpo, foi um encontro comigo e minhas sombras,
foi um lavar de alma, foi renascer como mãe, mulher e filha. Muita coisa mudou,
para melhor. Agora, eu entendo muita coisa e se pudesse colocava minha mãe em
um altar.
Sobre a dor, a tão temível
dor, a dor da morte, bom, eu to viva, to feliz, passaria por tudo mil vezes e
não morri, bom, não do jeito que imaginam.. Eu lembro que um dia antes de parir
eu li uma frase, que para mim, diz tudo sobre a dor do parto:
“The power and intensity of your contractions cannot be stronger than
you, because it is you.”
~ Unknown
~ Unknown
“O poder e a intensidade de suas contrações não podem ser mais fortes
que você, porque a contração é você.”
AGRADECIMENTOS:
As minhas amigas virtuais e reais da Caminhando,
obrigada pelas orações, pelo carinho, por existirem. Em especial a Talita
Paris que fez com que sua busca pessoal por um VBAC me intrigasse a buscar
o meu.
A Paloma Aleixo que
teve um parto lindo no Canadá e que me animou a lutar pelo meu, a nadar contra
a maré no país da Cesárea.
As mulheres poderosas da Rodabebedubem.
Obrigada pelas informações, pelas orações, pelo encorajamento. Em especial a Juliana
Santini que acalmou minha alma em um momento que me sentia bem tensa. Seu
alto astral, seu sorriso lindo e seu relato de parto serviram de combustível
pra minha luta.
A Renata Machado, professora
yoga linda. Obrigada pelas longas conversas e por me acalmar.
A Flavia Penido, doula querida
que me acompanhou toda gravidez. Sua ajuda foi essencial, tudo que me falou
ficou gravado e serviu para me dar força durante o trabalho de parto. Nunca vou
me esquecer de quando me falou: “O parto é uma maratona, os minutos finais são
os mais difíceis, mas os mais gratificantes, depois é só pegar o troféu.” E que
troféu.
A Dra. Juliana Paola, por me respeitar, por abrir seu coração e mente.
Por me permitir ser protagonista no dia mais lindo da minha vida.
A Patrícia Borges, que anjo.
Obrigada pelo carinho, atenção, abraço. Você foi fundamental. Ta bom, ta bom,
ta bom, ta bom. Lembra?
Aos meus cunhados, Priscila e Bruno
por abrirem sua casa para minha filha e cuidar do meu maior tesouro enquanto eu
trazia outro ao mundo, junto com minha sogra Vânia.
A Débora, uma verdadeira
deusa. Minha doula querida. Tu foi minha analgesia do começo ao fim. Sou
eternamente grata a você.
A minha família linda,
maravilhosa e perfeita que passou a noite em claro orando por mim, em especial
a minha mãe guerreira que sofreu violência obstétrica das piores que podemos
imaginar e mesmo assim ficou do meu lado e torceu por mim. Mãe. Você é uma
guerreira. Te amo.
Ao meu esposo Juliano. “O amor
só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos
ser.”(Mário Quintana) Não sei se foi
pela gigantesca carga de ocitocina, mas estou ainda mais apaixonada por você.
Obrigada por ficar ao meu lado, sempre.
Cristiane Maria Pereira
Sou professora de inglês pela Cultura Inglesa e aspirante a fotógrafa quando tenho um tempo livre. Amo meu trabalho.Mas amo ainda mais a maternidade. Ser mãe despertou em mim uma mulher que não sabia que existia. Tenho 2 filhas lindas. Angelie e Alice. Meu blog: www.cristianephotography.blogspot.com
Cristiane Maria Pereira
Sou professora de inglês pela Cultura Inglesa e aspirante a fotógrafa quando tenho um tempo livre. Amo meu trabalho.Mas amo ainda mais a maternidade. Ser mãe despertou em mim uma mulher que não sabia que existia. Tenho 2 filhas lindas. Angelie e Alice. Meu blog: www.cristianephotography.blogspot.com

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