É com
muita alegria que venho partilhar o relato desse dia tão especial em
nossas vidas. Para relatar esse dia, não poderia deixar de mencionar
algumas coisas que antecederam o meu VBAC, sim eu tenho uma cesárea
anterior, meu primogênito tem 3 anos de idade, pois bem, minha segunda
gestação foi bem desgastante pelo fato de descolamento de placenta no 1º
trimestre e ameaça de parto prematuro com 30 semanas, acabei deixando
de lado a busca por um vbac, só que no fundo, meu coração nunca deixou
de desejar o pn, pois bem desde o dia 24 de fevereiro a noite estava
sentindo umas cólicas, mas nada demais, dia 25 fiz US e tudo estava
ótimo, peso estimado era de 3877 kg, na terça, dia 26 fui na GO e ela me
disse que aquelas dores eram só as dores do encaixe, voltei para casa e
fiquei de retornar nela só na sexta, dia 01 de março, naquela noite, eu
e marido conversamos bastante, juntos lemos muitas sábias palavras da
doula Driele ainda naquela noite e juntos chegamos a conclusão de que
minha médica nunca aceitaria se submeter a um plano de parto, e de que
ter o Rafael através de parto normal seria impossível, e que mudar de GO
a essa altura do campeonato, não seria nada fácil, então resolvemos
deixar tudo como estava, e na sexta voltaríamos na minha GO, o que eu
não sabia é que faltava pouco, bem pouco para conhecer meu tesouro,
dormi bem aquela noite e acho que isso se deu ao fato do marido ter me
dito que o que eu decidisse ele sempre me apoiaria, dormi a noite toda, o
que já não acontecia desde domingo, Deus faz as coisas serem mesmo
perfeitas, meu corpo descansou e acordei as 7:30 com umas dores mais
fortes que as anteriormente sentidas e eu e maridão depois de algum
tempo resolvemos ir até a maternidade mesmo sabendo que provavelmente
nos mandariam voltar, afinal seriam as dores do encaixe?! Chegamos lá e
para espanto, meu, do marido e dos dois Ginecologistas de plantão, lá
estava eu com 8 cm de dilatação, sim 8 cm, nem eu mesma acreditei, a Go
de plantão, um
amor ligou para minha Go e a mesma não foi localizada, internei as
12:00 hs na Casa de Saúde de Santos, fui para uma suíte chamada sala pré
parto, lá tinha uma maca, um banheiro e algum espaço para eu andar,
espaço esse que eu andei muito, rs, rapidamente a GO veio checar e em
pouco tempo, 9 cm , eu estava a todo tempo com o marido e minha irmã do
meio que foi para a maternidade assim que eu liguei avisando que estava
indo até lá checar as tais dores, ela chegou rápido porque estava na
cidade de Santos já, e lá ficamos, eu, minha irmã e o marido, e que
diferença fez poder ficar com eles nessa hora, eu estava calma e não
tinha caído minha ficha ainda do que estava prestes a acontecer, em
minutos chegaram minha mãe, pai, minha irmã caçula e meu primogênito,
Gabriel, tiramos fotos, e foi nessa hora que pedi para o Marcelo ligar
para a equipe que filmaria o parto, sim, só agora me dei conta de que eu
iria parir, rs, como a equipe é do próprio hospital logo a fotógrafa
chegou, mas foi avisando que poderia não dar tempo da moça que faz as
filmagens chegar, pois o comum era agendar horário certinho e como eu
teria parto normal seria mais complicado, mas que ela ia tentar, ganhei
muitos beijinhos do meu amado Gabriel e isso me deu forças para
enfrentar tudo que viria pela frente, após aproximadamente 2 horas a GO
verificou e eu havia parado nos 9 cm, ela disse que iria estourar minha
bolsa e colocar ocitocina para ajudar nesse último cm, passado
aproximadamente 1 hora as contrações ficaram muito intensas e eu pedi
para não entrar mais ninguém na sala, apenas meu marido e minha irmã eu
queria que ficassem ali, começou a ficar desconfortante eu diria, se eu
falar que senti dor, foi nesse último cm, pedi para chamarem a GO e já
me encontrava em um lugar muito longe dali, lembro como flashes de eu
pedir para chamarem a GO gritando, rs, o marido perguntou para a
enfermeira se isso era normal, eu queria sentar, eu queria levantar, eu
queria deitar, eu queria correr, eu andava, eu me irritava com alguns
toques, eu apertava com a mão esquerda muito a mão do marido e com a mão
direita a mão da minha irmã, e as contrações vinham e logo iam, como
uma onda no mar, minha irmã a todo tempo pedia que eu fizesse a força
certa, e falava que faltava muito pouco para o Rafa nascer, eu gritei
algumas muitas vezes no ápice das contrações e gritar me fazia relaxar,
eu gemia e isso era confortante, saber que aquilo me levaria a um
caminho cada vez mais perto do meu amado filho, eu queria parir
imediatamente, a GO veio e após constatar dilatação total eu pedi
anestesia, ela disse que se eu mostrasse que estava fazendo a força
certa ela me daria, mas que seria fraquinha, apenas para aliviar minha
irritação, logo mostrei a ela que sim, mesmo sem ler livros e sem me
informar o tanto quanto eu deveria, eu sabia fazer a força certa, afinal
o instinto ajuda muito nessa hora, então ela pediu para eu tomar um
banho, banho? Sim, e eu pensando que a água seria morna, que nada, a
água estava gelada e aquele banho não foi legal, confesso, mil vezes a
mão do marido me fazendo massagem, sai do banho, lembro da enfermeira me
secar com um lençol, e a GO me pegar pela mão e me conduzir pelo
corredor do Centro Cirúrgico até a sala de parto normal, todos que
estavam trabalhando no Centro Cirúrgico naquele dia estavam esperando o
tal parto normal, afinal aquele seria o único parto normal daquele dia
dentre pelo menos umas 9 cesáreas, depois da anestesia, eu me senti bem
melhor e embora eu continuasse a sentir as contrações, essas eram mais
fracas, lembro que tinha um clima bem alegre na sala, dava para sentir
que todos estavam torcendo muito para o parto normal, dava para sentir
uma vibração gostosa, e às 17:09 H, dei a luz a um menino lindo, com
nada menos que 4460 kg e 52 cm, desabei a chorar de emoção e ouvi o
Marcelo com a voz trêmula dizendo: - bem vindo filho!, igualmente disse
no nascimento do nosso primogênito, daí em diante a GO terminou de dar
os pontos da episiotomia e eu já amamentando meu menino no seu primeiro
minuto de vida, ainda com sangue, como eu sonhei um dia que pudesse ser.
Eu não tive tempo de me preparar para o pn, de fazer exercícios de
respiração, de contratar uma doula (apenas iniciei contato via face com a
fofa Driele Alia,
e tentava me lembrar de tudo que ela havia me dito, de que eu poderia
mudar o rumo do que eu quizesse, de que me achava corajosa por ao menos
pensar no vbac, e com a ajuda da minha irmã (que foi minha doula por
instinto durante meus últimos 2 cm de dilatação) e meu marido que me
ajudou a protagonizar esse capitulo tão lindo de nossas vidas, eu
consegui parir. E nossa família está mais alegre com a chegada dessa
nova vida, agora sim, nossa família está completa. Todos no Hospital
queriam ver o tal bebê de 4.460 Kg que tinha nascido de parto vaginal, e
minha deusa interior dava pulos de tanto orgulho que estava sentindo
dela mesma, por vezes até umas piruetas ela se arriscava, me senti
capaz, é uma sensação gostosa, estranha e estimulante, lembro de sentir
algo parecido no dia da minha formatura de Direito, mas nem de longe
chega perto do que senti neste dia, parecia que eu tinha ganhado o
Oscar, algo assim, inebriante, contagiante e apaixonante poder viver
essas emoções. Hoje penso que não poderia ter passado por essa vida sem
parir um filho por parto normal, seria injusto, eu não seria completa.
Receber flores do marido ainda na maternidade com um cartãozinho
escrito, você é uma guerreira, foi quando minha ficha começou a cair de
fato. Quando eu falo que Deus faz tudo perfeito são por algumas razões,
pois vejam, logo após o expulsivo eu perguntei para a pediatra de
plantão que estava cuidando do Rafa se ela tinha filhos e ela me
respondeu com um sorriso imenso no rosto que tinha três filhos e os três
haviam sido de parto vaginal e para minha surpresa a GO me disse que
também havia tido seus filhos através de parto vaginal, com isso, eu só
posso chegar a uma conclusão, que meu plano de parto foi mesmo escrito
por Deus, pois essa equipe de plantonistas de uma das maternidades mais
bem conceituadas da Baixada Santista e super conhecida por ser
cesarista, era extremamente a favor do parto vaginal, afinal, elas
mesmos já haviam parido por esta via, talvez se minha GO tivesse sido
localizada, as coisas não seriam tão perfeitas, e provavelmente eu
cairia novamente em uma cesárea. Alguns dias após o nascimento, na
consulta com uma das PE que o acompanhará, a mesma me disse que não
acreditava que eu tinha conseguido parto normal na tal maternidade, pois
lá só se faz cesárea, e disse que os filhos dela também haviam nascido
de parto normal, com isso, acabei descobrindo que muito mais gente do
que eu imaginava haviam parido via vaginal, espero com a conquista do
VBAC mudar o conceito das mulheres de minha família, em especial das
minhas irmãs que ainda vão parir um dia na vida, fundamental sabermos
que podemos sim ser capazes disso. Se
eu fosse ter um terceiro filho, certamente lutaria por um parto natural
sem intervenções, mas o que posso dizer é que valeu a pena sentir cada
contração que me levava ao encontro de mais um sonho tão esperado, meu
caçulinha.
30 anos, casada com Marcelo, mãe do Gabriel e do Rafael, amiga, filha, irmã, sobrinha, advogada por formação e mãe 24 horas por opção, luta pela justiça que ainda não encontrou, incansável, idealizadora, completamente feliz e apaixonada pela vida, realizada!

O trabalho Relato de VBAC: Anne de Anne Karoline de Abreu foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
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