Olho pra minha escrivaninha e vejo aquela bagunça clássica
das escrivaninhas: papeis, contas, livros, muitos desenhos das crianças e
vários lembretes: programar alguns posts na fan page do Infância Livre de
Consumismo, programar posts no site da
escola, ver se deu certo a arte para o álbum, ver se o host já solucionou os
problemas na programação daquele novo site, imprimir o trabalho da Naná para a
escola, ligar para a gestante e confirmar encontro pré-parto, agendar a visita pós-parto de outra mulher
(se a Dutra não estiver parada), não esquecer de comprar pasta de dentes, não
esquecer do post para o blog da Elaine... putz, que dia é hoje? Meu Deus, a
data limite era hoje!!!! Respira,
Debora, senta e escreve. Vamos lá...
A maternidade mudou inexoravelmente minha vida. Eu sempre
fui uma aquariana com ascendente em peixes disposta a mudar o mundo, mas a
mulher que surgiu em mim depois dos partos quer mudar tudo, pra ontem. Quando
vi, já estava completamente envolvida com o ativismo materno e todas as suas
ramificações. Eu passei a ser mais
crítica e observadora do mundo que quero para mim e, principalmente, para meus
filhos. Só que nessa luta para um mundo melhor, muitas vezes pede tempo e
dedicação e, quando vejo, acabei deixando um monte de coisas que eu gostaria de
ter feito, meio abandonadas. Certa vez, durante uma grande movimentação
ativista, eu estava preparando loucamente materiais para a causa quando vi meus
filhos prepararem sozinhos um lanche para comer, brincavam entre eles e eu não
estava lá. Bateu aquela velha conhecida materna, a dona Culpa. Ela veio me
fazer uma visita, comentou se eu não achava que era um absurdo eu querer mudar
o mundo quando minha casa estava um bagunça, meus filhos tinham de se virar
sozinhos, eu queria cuidar de todas as crianças do mundo, de todas as mulheres,
mas não cuidava da minha própria casa?
Ao contrário do que apregoa uma famosa revista por aí, eu
não acho culpa ruim não, ela é aquela voz interna necessária pra nos dar um
breque, para dar aquela chacoalhada, colocar uma pulguinha atrás da orelha. Quem
nunca se sentiu culpada porque deixou as crianças dormirem sem banho, deu um
chilique com os filhos, fez macarrão alho e óleo na janta ou esqueceu de lavar
os uniformes da escola?
Parei o que estava fazendo, fui até as crianças e elogiei o
fato delas estarem preparando seu próprio lanche. Então, meu filho fala: “nós
estamos preparando um piquenique, depois nós vamos desenhar uns cartazes para a
sua marcha, mamãe. Olha só, a gente está comendo coisas saudáveis e sem
conservantes!” Olho pros meus três pequenos ativistas e me dá um orgulho
danado! É, não sou uma mãe tão ruim assim.
Debora Regina M. Diniz
É mãe de três, cursou Letras e Semiótica. É doula e educadora perinatal e
participa de encontros de mães e bebês na Roda Bebedubem quinzenalmente no Sesc
São José dos Campos. Co-fundadora do Movimento Infância Livre de Consumismo. É
ativista e implicante com a sociedade atual desde sempre.

O trabalho Devaneios de Uma Mãe Ativista (por Debora Regina M. Diniz) de Debora Regina M. Diniz foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
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