Esse relato tem uma história bem legal. A Adriana entrou em contato comigo e disse que ainda não tinha escrito seu relato, mas que queria participar do Projeto. Disse que se eu me dispusesse, ela me contaria a história toda por telefone, era só ligar. Pois não é que eu liguei? Na primeira ligação, ela escutou um pouco da minha história e o que me moveu a coletar todos os relatos. Na segunda ligação, ela me contou sua história. Eu anotei às pressas no meu fiel caderninho e depois sentei pra escrever por ela. O que vocês vão ler é tudo o que os escrevemos juntas, pois ela revisou, acrescentou e tirou coisas, até ficar do agrado dela. Obrigada, Adriana, foi muito legal passar por essa experiência com você!!
Meu primeiro filho nasceu de uma cesárea intraparto depois de 18 horas de trabalho de parto, devido a uma parada de progressão na dilatação. Eu achava que não teria problemas para parto normal. Passei por vários médicos, mas não sentia firmeza neles. Eram médicos de convênio e eu não sabia que precisaria de uma assistência mais especializada.
Tive uma doula me acompanhando, fiquei em casa o máximo que eu pude. A bolsa se rompeu às 3h da manha, as contrações vieram logo em seguida, fortes e ritmadas desde o começo e fomos para o hospital às 8h. Chegando lá, depois de 6h de TP, apenas 1 cm de dilatação. Fiquei no pré-parto até mais ou menos 12h, quando disseram ser necessário o uso do antibiótico por causa da bolsa rota. Já estava entre 4 e 5 cm de dilatação e fiquei muito desapontada, pois não esperava ter que ficar em trabalho de parto com nada na veia. As 17h foi feito um novo exame de toque e continuava com 5cm, estava sem progressão no TP.
As contrações eram muito fortes, mesmo assim, o médico sugeriu usar ocitocina. Eu não queria, sabia que iria doer muito mais, mas ele me convenceu dizendo que a dose era mínima e aumentaria muito lentamente. Com o uso do hormônio artificial as contrações então deixaram de ser suportáveis. As 18h fui para analgesia, o que não adiantou, pois devido a algum erro, continuei sentindo as contrações. Fiquei 15 minutos deitada com muita dor. Eu gritava muito. Nova analgesia e eu dormi cerca de 1 hora.
Ao acordar, o médico fez terror, disse que estava com o máximo de ocitocina, com contração permanente. Na verdade, ele estava me preparando para a cesárea, mas jogou a decisão para mim. Naquele momento, eu achei que era necessário. Conversando com outras pessoas depois, descobri que dava para continuar esperando, já que o bebe tinha boa vitalidade. Veio revolta contra o médico. Acreditei que a dilatação estacionou por causa do hospital, foi quando decidi que o segundo parto seria domiciliar.
Programei minha segunda gravidez para 1 ano e meio após a cesárea, pois sabia que com uma diferença de 2 anos entre os partos a cicatrização do útero já era bem segura. Restava então alcançar a segurança necessária para o parto domiciliar. Fui a uma palestra com, com estatísticas reais que me acalmou muito, ajudando nessa preparação. Queria um parto natural mesmo, sem antibiótico, sem exame de strepto, sem analgesia, já que sabia que as contrações naturais eram plenamente suportáveis.
Dois anos depois, 2009, estava realmente decidida a ficar em casa na hora do parto. Um dia antes, tive febre, diarréia, estômago virado. Porém, acordei bem no outro dia, por volta de 7h, com toda energia, sentindo as primeiras contrações. As 9h, contei mais de 14 contrações em 1h. Liguei para a obstetriz e ela veio. Ela montou a banheira e por volta de 12h, a doula chegou e ficou comigo o dia todo.
Combinamos que não falaríamos sobre quanto estaria a dilatação, nem que horas poderiam ser, para que eu me desconectasse o máximo possível. Falamos também sobre meus medos e sobre o quanto queria permanecer em casa ate o fim evitando assim novamente o ambiente hospitalar que prejudicou meu primeiro parto. Ligamos para meu homeopata que indicou um medicamento para me ajudar relaxar e assim o colo a dilatar.
Só depois do parto é que eu soube que a progressão havia estacionado como da primeira vez. Desse modo, foi realmente vantajoso eu não saber disso para não ficar ansiosa e com medo que a historia se repetisse. Ao meio dia, estava com 5cm e às 22h, quando chegou novamente a obstetriz, dessa vez já acompanhada pela médica, a dilatação continuava em 5cm. A médica cogitou minha transferência para o hospital, mas antes sugeriu uma massagem no colo do útero.
Com as massagens, de 5cm progredi pra 7cm, dali pra 9cm e a médica disse que eu poderia começar a empurrar. Pedi para ficar com os pés no chão e logo elas trouxeram a banqueta de parto para eu sentar. Outra coisa que me ajudou muito no expulsivo foi acompanhar através de um espelho a progressão da cabecinha da minha filha conforme eu fazia força. Creio que devo a isso o fato de eu não ter precisado de nenhuma sutura na região do períneo.
Até então, eu não acreditava que eu ia parir. Só acreditei quando vi coroando a cabeça da minha filha. Chegaram nessa hora no quarto meu marido com meu filho de dois anos no colo, exatamente no momento em que o corpinho todo saiu. Todos choraram de alegria e eu realizei assim meu sonho de parir com minha filha perfeitamente saudável, colocada diretamente no meu colo. O pediatra não chegou a tempo, apenas 15 minutos depois, mas nos deixou muito felizes com a avaliação dela...
Adriana Natrielli
37 anos, mãe do Fábio, da Gabi e grávida do bebê 3, mestre em Filosofia, professora, doula, ativista pela humanização do parto pela Parto do Princípio e coordenadora do MAMI Butantã (Movimento de Apoio à Maternidade Integral).
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