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terça-feira, 28 de maio de 2013

Relato de VBAC: O Nascimento de Luiza

Parir
 
A capacidade de parir é dada a qualquer mulher. Aliás, qualquer não. Qualquer parece desqualificar. Talvez o melhor seria dizer às mulheres. A capacidade de parir é dada às mulheres. Não sei exatamente há quantos anos parimos nesse mundo. O fato é que faz tempo. Mas há pouco parece que estamos nos convencendo de que não dá. Não dilatamos. Não contraímos. Não abrimos. Não somos capazes. Precisamos de ajuda. Ainda bem que os médicos existem. Sem eles não poderíamos ter nossos filhos. Sem eles a humanidade estaria fadada ao fim.
Será?
Embrião
Um único dia. A certeza de que eu teria dois filhos. A certeza de que faltava alguém na nossa família de três. E faltava. Não vou mais tomar essa pílula. 15 anos de hormônio é muito. Chega. Não tomo mais. Jura? Juro. Falei que não ia tomar e não tomei. Eu te avisei.
Mas não temos dinheiro para o quarto membro. Não temos dinheiro para completar a família. Ok. Mas eu não tomo mais hormônio. Então vou evitar aproximação. Dia 30 de março. Aproximamo-nos.
17 de abril
 
Peito gigante. Êêêêê! A despeitada adora o peitão. Doído. Doído? Estranho. Enjôos a cada duas horas. O que está acontecendo comigo? Luciano, tô com o peito doendo e tá grande, não está? Tô enjoada. Pelamordedeus, mulher? Tá grávida? Não sei.
30 de abril
 
Amanhã vou fazer um teste. Tô muito estranha.
1º de maio
 
Feriado. Tô grávida. Acabou a mamata. Vamos começar tudo de novo! Yara, é menina. É a Luiza. Eu quero menina. Amore, e se for menino? Não quero que você não queira meu menino se tiver um menino aqui. Relaxa. É menina. Mas, meu Deus. Como vamos fazer? Marido preocupado. Mulher cabreira. Poxa, queria que ficasse feliz.
2 de maio
 
Pedro e Luciano chegam no meu trabalho. Tem presente. O que é isso? Surpresa. Nós escolhemos juntos. Ownnnn! Um macacãozinho. Branquinho. Meu marido está feliz. Meu filho está feliz. Vamos completar nossa família.
13 de maio
 
Dia das Mães. Vamos almoçar em um restaurante legal. Na praia. Mãe e Vó, estou grávida. É. Tô grávida. Eba! Família que chora e se emociona unida permanece unida. Pai, tô grávida. Vai ter? Claro! Então tô feliz por você. Preocupado mas feliz. Pai, fica só feliz. Deixa a preocupação pra mim. Pessoal, tem uma nota musical dentro de mim. Tem um neném na minha barriga. 


Luta
7 de junho
Estava eu em busca do meu parto. Tentando entender qual o custo (financeiro, emocional, familiar) que ele teria pra mim. Já sabia que não podia contar com a sorte. Então tinha que contar com a cabeça e a intuição. Que dessa vez teria que ver nuances. Só conseguia ver um parto normal com um plantonista. Só escutava, pelo plano, só se chegar parindo. Pelo plano, só se chegar parindo. Mas era isso que eu achava da primeira vez: “só chegar parindo”. Cheguei com contração de dois em dois minutos e 2 cm de dilatação. Então não é tão simples assim chegar parindo. E se eu não chegar parindo? Não posso correr esse risco.
Da médica onde eu estava indo, pelo plano, ouvi: “É, pós cesárea, entre Natal e Reveillon, vai ser difícil”. Em casa, comigo aos prantos, minha mãe disse: vai no particular. A gente dá um jeito. E foi da poupança da minha avó de 88 anos, que teve um VBAC (vaginal birth after c-section, ou parto normal depois da cesárea) em 1956, que saiu o dinheiro que iria permitir que eu deixasse a natureza agir.
Em algum momento de Julho
 
Yara, você precisa de uma doula. Olhei as meninas, o face. Selecionei três. Hummm, a Bruna (mulher querida do meu irmão) deve conhecer alguma. Bingo. Maíra Duarte. É ela. Mandei email, liguei e bateu. Olha as energias trabalhando.
1° de agosto
 
O consultório dela estava em reforma. Então eu deveria atravessar a cidade e encontrá-la em outro lugar. Chegamos com facilidade. O lugar era mágico, colorido, cheio de penduricalhos. A impressão era de termos entrado em uma outra dimensão.


Ela estava de calça clara, leve, como aquelas que usamos na praia, na Bahia, sabe? Queimada de sol, sorriso no rosto, cabelão.
- E aí, gente?

- Queremos um parto normal.


- Tá bom.


- O que vocês imaginam?


- Não temos grandes planos. Só não queremos ser enganados.
Ela sorriu.
Saí de lá com a certeza de que era ela.
Naquele ponto minhas vontades tinham ganhado nomenclaturas. Eu achava que um parto normal, era normal, deixando o neném sair. Não é. No Brasil, um parto normal é um parto com soro (ocitocina sintética) e episiotomia (corte na vagina - nem sei como usei esse nome pra ela) de rotina.
Alguém me cortar? Nãooooo! De rotina? Nãooooo! Não quero saber de senso comum no meu aparelho reprodutor. Gente, eu sou pequena, mas eu juro que eu consigo. Eu juro. E não é porque eu sou forte. É porque eu sou mulher. E mulher nasce com essa capacidade.
Yara, o que você quer é um parto natural. Ahhhh, tá. Eu não gosto de nomenclatura. Eu só quero parir.

Finalmente, gestando
Setembro
 
Agora eu posso relaxar. Vou curtir minha gravidez. Fazer massagem com a Maíra, conversar e chorar na sala da Betina. Sim, ela não faz consulta. É sessão. Entrar e sair desses lugares pra conversar, chorar, encarar os medos. Avisei: eu não quero anestesia. Nem se eu pedir. Só quero se isso for impedir uma cesárea. De novo, gravidez de livro. Pressão ok. Neném virado. Contrações de Braxton Hicks como companheiras diárias. Peso? Lindo. A cada mês eu me achava mais linda. E todo mundo me achava maior.

Novembro
 
Yara, vou viajar o fim do mês todo. Meu amor, pode viajar o quanto você quiser. Até o dia 15 de dezembro. Dia 15 de dezembro você volta. Muita caminhada, trabalho a mil. Cansaço bom de dever cumprido no fim do dia. Contrações, contrações, contrações. Cada vez mais frequentes. Trânsito frenético, contrações a mil. Problema de dinheiro, contrações a mil. Descida de ladeira, contrações a mil.  Vamos pro Rio que eu quero foto em Ipanema. E pra Vila, afinal as meninas dessa casa são paulistanas. Pra quando é? Depois do dia 3 de dezembro tá pronta. Até que dia você vai trabalhar? Dia 14 de dezembro. Tá doida,Yara? Não. Doida eu vou ficar em casa sem fazer nada.
Dezembro

12/12/12
Luiza, minha filha, hoje não. Vem cá, vamos conversar. Os hospitais estão cheios. Eu quero poder ir pro quarto com você. Hoje não. E seu pai ainda não chegou. Tá em Joinville. Ele chega dia 16 de dezembro.
13 de dezembro
 
Aniversário do dindo. Contração, contração. Adoramos o número treze. Um mês antes do aniversário do seu pai. Contração, contração. Taxista mané. Desabafo no Facebook. Yara, você tá parindo? Não. Essas contrações são normais. Minha DPP é só depois do Natal. Yara, quer ajuda? Não, gente, juro, essas contrações são normais. Já acostumei com elas. Minhas companheiras de gestação. Dói sim, mas é pouquinho.
Finalmente, parindo
14 de dezembro
14h
Chega de trabalhar! Quero comprar uma roupinha vermelha para minha filha. Quero que ela possa colocar quando nascer. Vou pro shopping. Yara, você ainda não fez a mala? Não. Mas ainda tenho uma semana. Agora parei de trabalhar, vou ajeitar tudo. O quarto, a mala, as roupas. Vou pro shopping procurar a roupinha vermelha. Nossa, que barrigão. Pra quando é? São gêmeos? Nossa, senta aqui. Não fica em pé, não. Senta. Senta. Senta. Tô bem em pé, gente.
22h
Nossa, cansei. Vou deitar. Betina, minha amiga, fui passear no shopping. Tô cansadona. Vou sentir saudades da gravidez. Não sinto ansiedade, nem nervosismo. Me sinto plena e feliz.
23h
Tô cansadona. Vou dormir. Acho que um seriado pra ver se eu relaxo.
15 de dezembro
00h
Amore? Tá acordado. Cri, cri, cri... Contração. Tá estranho. Doendo. Amore? cri.... Contrações a cada 10 minutos. Cri...cri, cri...
3h06
Banheiro. Tampão. Saiu o tampão! Filha, tô aqui, seu irmão tá aqui. Vem! Banheiro. Quatro vezes no banheiro e contrações doídas. Vocaliza, Yara, vocaliza. Ahhhhhhhhhhhh. Ahhhhhhhhhhh. Ahhhhhhhhh. Você sabe que vai demorar. Lembra que da outra vez você achou que contração bem pertinho assim era fim de trabalho de parto? Pois é. Seu padrão é outro. relaxa porque vai demorar. Contrações de cinco em cinco minutos. Ahhhhhhhhhhhhhhhhh. Ahhhhhhhhhhhhhh. Vou tentar dormir.
3h42
Luciano, pelo amor de Deus. Atende o telefone! Atende! Vou tomar um banho pra ver se espaça e eu durmo. Preciso de energia para chegar até o final. Vou colocar no silencioso. Preciso saber se você vem. Preciso desligar do mundo externo e concentrar no meu corpo. Dá sinal de vida.
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8h
- Oi, desculpa. Estava dormindo. Ainda tem contração?


- Claro! Tô contando para mandar pra Maíra.
9h
- Novidades?


- Dormi.


- Compra a passagem pra mim?


- Compro. Eu te disse que era pra voltar dia 15. Eu avisei. Péra, anota o número e senha e compra aí. Mandei mensagem pra Maíra. Ela acordou porque tem email dela na lista. Pedro está a mil. Espera. Contração. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Pronto. Fala.
10h21
- Falei com a Betina. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Ela disse que se você não quer correr risco nenhum de perder o parto é melhor vir hoje.


- Tô indo.


- Ufa. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh Tô te esperando. E vou desconectar.
13h
- Tudo bem aí?


- Tudo, mas cansei de contar contração. Tomei mais banho. Tô dormindo e acordando. Pedro me traz água e comida. Também marca as contrações quando eu peço. Filho doulo. Ahhhhhhhhhhhhhhhh
15h
- Chego às 17h se não tiver atraso. Ligou pra sua mãe?


- Não liguei. Só dormi, acordei, Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Tomei vários banhos. Chuveiro é vida.
17h
- Tô no avião.


Cri, cri, cri.... Cri, cri, cri....
--------

18h - Pedro. Luciano. Yara.
Ligou pra alguém? Não. Nem pra Maíra? Não. Comeu? Não. Pai, minha mãe tá exagerando, né? Acho que não filho. Dói mesmo. Pedro, vocalizar ajuda a focar. Ahhhhhhhhhhhhhhhh. Vem minha filha. Seu pai já chegou. Tempestade na janela. Maíra quer saber de quanto em quanto tempo está a contração.
- Não sei. Parei de contar. Ahhhhhhhhhhhhhhhh

- Vou contar. Me avisa.


-  Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh.


- Já passou a contração?


- Ãhn?


- Pô, me avisa quando passar a contração.


- Não é óbvio? Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh Não dá. Não dá.

A Maíra está vindo.

19h 
Olhos da Ma. Você está bem? Estou. Luciano vai comprar alguma coisa pra ela comer. Precisa da mangueira pra encher a banheira e da banheira. Vai buscar, por favor? Cadê a mala? Não fiz. Você quer ir pra maternidade? Ainda não conversei com ele, Má. Morango e cereja. Come. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh Queria melancia e goiaba. 4 centímetros. Comprei cereja porque você ama. Amo. Mas queria melancia e goiaba. Amore, vamos ficar aqui em casa? Não conversamos. Vamos, vai? Não conversamos, a gente precisava de mais tempo. Eu precisava de mais tempo. Por favor, vamos pro hospital.
- Ahhhhhhhhhhhh Má, nós vamos pro hospital.
Chuva na janela. Pedro sumiu. 6 centímetros.

21h30 
Vamos pro hospital. Luciano e Maíra fazem as malas. A Betina já está indo. Vou tomar mais um banho. Não posso esquecer o xampu. Eu quero tomar banho depois de parir. Eu quero poder levantar da cama depois de parir.
Pega três travesseiros. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh. Yara, deita como você estava na cama. Usa os travesseiros para apoiar. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh. Ai, eu me lembro de cada buraco que passei com contração quando fui pro hospital no TP do Pedro. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh. Luciano, a cada contração, pára o carro. Pode ir amore, passou. Onde a gente está? Na Hélio Pelegrino. Amore, entra na Clodomiro à direita. Pára de novo! Contração. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh.
Espera. Vou descer. Ahhhhhh, a Betina. Oi Betina. Não sei com que calça ela estava. Mas acho que a bolsa era marrom.

22h30 
Quer cadeira de rodas? Não, obrigada. Só paciência mesmo. Eles vão medir. Não tem problema. Pode medir. Vou fazer o toque, tá? 8 cm. 8cm? Caramba. Não tem Delivery. As duas ocupadas. Betina, eu não fiz depilação. Não tem problema. Rs. Ahhh, me arruma um delivery. Quem está lá? Me arruma um vai? Vou ver. Eu preciso muito. Ela precisa. Ai, não acredito que não vai ter delivery para mim. Ainda bem que eu não estava contando com a sorte.

 Vem comigo. Eu, Maíra e a enfermeira seguimos pelo corredor. Espera. ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh Sala 1. Yara, tem Delivery! Tem Delivery. Ufaaaa! Vou encher a banheira. Posso tirar a roupa? Claro. Oba, posso ficar pelada. Posso entrar na banheira enquanto você enche? Melhor esperar. Tudo escuro. Vou entrar no chuveiro, então. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Muito quente essa água, não regula. Pode entrar na banheira. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Luzinhas no teto. Músicas da Maíra. Água quente.
Podem jogar água em mim, sim. Ai que bom. Isso apertem aí. Apertem. Massagem na lombar.

16 de dezembro
Por volta da 00h. Posso fazer um toque? Pode. 10 cm. Agrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaa! Vontade de urrar! Agrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Yara, você tá com vontade de fazer força? Não. A força é que tá com vontade de fazer força sozinha. É assim mesmo. Nossa, que violento. Ai, tão bom estender a mão e agarrar a mão do meu companheiro. Ver os olhinhos dele no escuro todas as vezes que eu abro o olho. Nossa, tem mais uma pessoa aqui. Maíra, Betina, Luciano. Essa deve ser a Sandra. Agrrrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Yara, usa essa força que você está colocando no urro e manda ela pra baixo, como se respirasse a força. Mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm! Não consigo, Má. Consegue, sim. Mmmmmmmmmmmmmm! O banheiro esvazia. Desistiram de mim e da Luiza. Acho que eu vou levantar. Nossa tem uma coisa no meio das minhas pernas. Parece uma bexiga. É a bolsa. Estourou e ficou presa aqui. Quer ir pra cama?

 Deita na cama, apoia na bola. Vê se fica confortável. Que horror. Me dá uma sensação de instabilidade total. Não quero bola. Vou voltar pra banheira. Acho que é a Sandra e a Betina que estão no sofá. Vamos ouvir o bebê? Pode ouvir. Eu sei que ela está bem. Foi todo mundo embora do banheiro. Acho que elas pensaram que eu ia parir e eu não pari. Meu Deus, que força do além é essa. Parece que vai me rachar no meio. Eu não consigo aproveitar todo o tempo da contração. O meu fôlego acaba no meio. Não encostem em mim. Ninguém joga água em mim. Ninguém encosta em mim. Yara, bebe isso aqui ó. Que troço ruim. Pelamordedeus. Vai te dar força. Vai me dar vontade de vomitar isso, sim. Muito doce.
Eu não vou conseguir, eu não vou conseguir. Meu Deus, eu faço força e ela não sai. Luiza, vem minha filha. Pelamordedeus. Eu coloco a mão lá embaixo, queria sentir a cabeça. Não sinto nada direito, parece que tá tudo estranho. Vou sair da água, quem sabe me dá mais força. Eu não aguento mais. Luciano me olha. Olhar parece de surpresa com admiração. Será que ele está com pena? Pena, não. Eu tô onde planejei e quis. Onde eu sonhei.
Será que força em pé ajuda a gravidade? Mmmmmmmmmmmmmmmmmm. Nossa, tô zonza.  
 
Mmmmmmmmmmmmmmm. Vou agachando um pouquinho. Por que eu não consigo ficar sentada nesse banco? Amore, me ajuda. Vou cair. Tá tudo molhado. Alguém me ajuda com essa bexiga no meio das minhas pernas? Eu tento arrancar com a unha, mas não dá. Tá me irritando. Tá tudo me irritando. Não vou aguentar. Vou voltar pra banheira pra tentar dormir. Eu preciso de força.
Ai, que delícia de banheira. Eu li na lista de que quando o pensamento começou a negativar, a coisa desandou. Yara, o que tá segurando ela aí? O que tá pegando? Má, eu não sei! Eu tô feliz, eu quero que ela venha, eu faço força e ela não vem. Meu Deus, onde que eu tô segurando essa menina aqui dentro? Vem, Luiza, vem Luiza. Cadê a música dela?
Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Vem, minha filha, eu tô aqui. Tô te esperando. Eu vou conseguir, você vai vir pra mim, vem, vamos as duas fazer força. Vem minha filha. Faz anos que eu te espero. Eu sempre soube que você viria. Chegou nossa hora. Vem pro meu colo, minha filha. Sai do ventre pro meu colo. Eu tô te esperando. Seu pai me dá a mão.
Vem cá, Luiza

Me dá tua mão
Vou sair da banheira de novo. Apoia na pia. Força, força, força. Meu Deus, agora eu tô conseguindo fazer força até o fim e quando eu consigo, não dói. Só dói quando a força termina antes da contração. Mais força. Vem minha filha. Vem. Yara, vem aqui, você quer tentar deitar? As vezes a posição mais comum é a melhor. Claro, pode ser. Eu sou uma mulher comum. Vamos lá. Mas espera. Espera. Força. Força. Vamos. Me ajuda, Luciano, tenho medo de cair nesse chão molhado.
Deitei, nossa! O que é isso. Aiiiiiiiii, tá ardendo. Yara, a cabeça dela tá aqui. Aiiiiiiiiiiiiii, aiiiiiiiii, Betina, o que você está fazendo? Nada. Mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Força!!!!!!!!! Quer pegar Luciano? ...Titubeou um segundo! Eu quero! Eu quero! Minha filha, minha filha Luiza! Vem minha filha!
5h19
Rosinha! E branca de vérnix. Yara, é bom pra pele. Maíra passa no rosto. Que lindas essas meninas todas na minha volta. Três mulheres do bem para receber a mulher da minha vida. Minha Luiza. Apgar 10/10. Já parou de chorar. Lugar de bebê é no colo da mãe.

 Luciano não acredita. Sandra pede para pesá-la. 3,218 quilos. Colocou os pezinhos na agenda mágica e nos papeis de praxe, fez os testes e pronto. Vai pro colo da mãe. O pai, em algum momento, também pegou. Uma contraçãozinha e lá se foi a placenta. Vermelha. Grande. Laceração? Não tem não senhor. Nada? Nadica de nada. Nem arranhão. Pergunte-me como: santo epi-no. E vem pro peito, minha filha. Saiu mamando. Não precisou ajuste de pega, nem intervenção. Nasceu sabendo.
Cordão cortado depois de parar de pulsar
Não tinha noção de tempo há muitas horas. Domingo, dia 16 de dezembro de 2012, às 5h19, nasceu minha sagitariana, com ascendente em sagitário e lua em aquário. Veio no dia que quis. Veio como quis. Eu vim junto. Renasci.
 
 Yara Tropea
33 anos, é jornalista e tem dois filhos. Suas leituras começaram desde criança quando, antes da mãe acordar, ficava esperando na porta de casa o jornal matinal ser entregue. Suas escritas sempre aconteceram, seja nas agendas da infância, no jornal de bairro ou no seu blog. Quando o assunto é maternidade é que ela se esparrama.
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