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domingo, 26 de maio de 2013

Relato de VBAC: Davi

A CESÁREA
Um parto sempre envolve emoção. Muita. Talvez por isso essa seja uma das coisas mais difíceis que já escrevi na vida, mais que redação de vestibular!! Porque poderia ficar uma vida inteira escrevendo sobre o nascimento dos meus filhos...  de tanto que gostei da coisa! O Pedro, hoje com 2 anos e 5 meses, nasceu de cesárea. Ficou pélvico (sentadinho) desde os 7 meses. Eu já havia lido bastante sobre tipos de parto e queria muuuito o natural. Sem dinheiro para pagar equipe particular de parto humanizado, depois de passar por uns 3 médicos diferentes, inclusive pelo SUS (apesar do convênio), sem dinheiro nem pra consulta, queria porque queria uma casa de parto. A família já de cabelo em pé com isso...!!!
Acabei entendendo através de fóruns e amigas virtuais como funciona o terrível sistema dos convênios e a indústria do nascimento. Posições de yoga pro bebê virar, sim, com aquela barriga, quase de cabeça pra baixo fiquei, E NADA. Fim da gestação, com streptococos positivo e bebê pélvico, tchau casa de parto, acabei me conformando com a cesárea. Cheguei a entrar em trabalho de parto. E foi.  Como todas, fria. Muuuita dor depois (até hoje ela dói).  E o Pedro veio lindo, maravilhoso e compensado de muita humanização com carinho, amor, cuidados, sling, amamentação...
A DECISÃO
Quando o Pedro cansou espontaneamente de mamar, ao 1 ano e 3 meses, me descobri  grávida novamente, totalmente de surpresa!! Gravidez perfeita, aos 6 meses resolvi procurar uma médica totalmente “humanizada”, a Dra. Betina, já que a médica que fez minha cesárea me respondeu o seguinte quando eu perguntei se poderia ter um parto normal dessa vez: “a gente pode tentar”. Ahã. Condições financeiras um pouco melhores, fui pagando as consultas e minha mãe pôde generosamente me emprestar (em parcelas “como puder, a perder de vista") a grana para pagar o parto. Não pensei duas vezes, marido acolheu a idéia. E assim foi.
O PARTO
Ai que delícia! As contrações começaram na noite de quarta para quinta-feira (dia 13/09/12). Fortes e com certo ritmo (chegou a intervalos de 7min). O Pedro dormia comigo e o marido no sofá porque roncava demaaaais e eu sabia que tinha que dormir nos intervalos, pois achei que meu bebê nasceria ainda pela manhã (não sabia até então que a luz inibe o trabalho de parto!). Esperei que desse 6h para ligar para a dra Betina e contar ao meu marido que ele não trabalharia naquele dia! Mas, ao telefone, a dra disse: “Tô achando vc muito calma... vem aqui pra eu dar uma olhadinha”. Acabamos passando na casa dela que era mais fácil do que no consultório (pegar 23 de maio congestionada pela manhã com contrações, imagina!).
 Acordamos a Betina, tadinha! Quando chegamos lá, eu já não tinha quase nada de contração! Ela fez um toque e tinha uns 3cm só. Minha mãe tinha ficado com o Pedro. Passamos na padaria e tomamos um café, mas eu tava esquisitona!! Uma pressão fantástica na pelve! Fomos pra casa e NADA mais aconteceu! Sexta feira dentro da rotina e à noite o Pedro começa a ficar ruinzinho da garganta. Sábado chega com uma febre de 40 graus (no Pedro), contrações fortes e esporádicas e a saída do tampão, praticamente todo de uma vez!. Pronto socorro. As enfermeiras já estavam querendo me levar para a maternidade para “dar uma olhadinha”  pois as contrações estavam fortes. Ahã.
O Pedro estava com a garganta toda inflamada! Foi medicado, a febre baixou e parecia que nada tinha acontecido. Só aí relaxei! Um casal de amigos nossos veio prá cá comer uma pizza e lá pelas 9 da noite a coisa esquentou!! Mal comi um pedaço e fui deitar, o Pedro foi comigo e ficamos lendo um livrinho, até que não deu mais prá ler... ele ficou segurando minha mão! Levantei e fui pra sala, começamos a marcar os intervalos entre as contrações, até que  não deu mais pra escrever!!
Meu marido não botou fé, porque eu estava calma e já tinha tido um alarme falso, né? Até que eu pedi “pelo amor de Deus, liga pra Betina”. Pronto!! Chamei minha mãe e deixei o Pedro com uma lista de remédios pra tomar... tinha que parar de falar nas contrações!  Tive uma contração no elevador  e rezei pra não ter outra até o carro,mas foi em vão!! Tive que gritar pelo meu marido que ia na frente pegar o carro.  Deixamos os amigos na casa deles e fomos para o hospital. Fui de olhos fechados pra não ver as barbaridades no trânsito!! Chegamos rápido e aceitei a cadeira de rodas pra ir até a sala de exame, achei que não conseguiria andar! A Betina teve que dar uma acelerada “nos processos” porque o hospital ficou esperando liberação do convênio. Lembro de ter que fazer xixi nesse meio, mas já não conseguia falar, só escutava!! Lembro de rolar um papo sobre o plano de saúde não cobrir alguma coisa ao que soltei um” f*, a gente vende o apartamento!”, o que graças a Deus não foi preciso!
Chegamos, enfim,  à sala de parto! Só consegui ver a banheira cheinha e quentinha!! Ali fiquei algum tempo e só aí me entreguei àquela dor, finalmente.  E era muita. Lembro vagamente do meu marido ali ao lado e de um toque (eu acho). A Betina me mandou fazer força e depois pediu que eu fosse para a cama, não sei bem porque. Eu não fazia questão de parto na água, apenas o queria  o mais natural possível, que rolasse livremente.  Fui para a cama e só pensava em fazer força de qualquer jeito! Fiquei em algumas posições, mas acabei me acomodando no “frango assado” msm, olha só que coisa! Meu marido ficou ali do lado passando um paninho molhado na minha testa (nesse dia estava muuuuito calor, mais de 30 graus!) e me ajudando a colocar o queixo no peito quando eu empurrava. Eu segurava minhas próprias pernas por trás e as puxava para fazer força. Achei que não conseguiria. A Betina me perguntou se eu queria anestesia e eu respondi, ainda brincando: “não, quero cesárea!”, hahaha até parece!! Aí ela disse: “Não tenha medo, não vai te machucar, seu períneo tá elástico e o bebê tá aqui embaixo”. Pegaram o bendito espelhinho para eu ver o cabelinho. Ahã!! Vi nada!! Nem queria!!
Me concentrei no batimento do meu bebê que eu ouvia pelo aparelho e nas contrações que  já eram uma coisa só e FIZ FORÇA! Muita. E senti. Aquela sensação inexplicável e maravilhosa da cabecinha dele saindo e logo depois, mais um empurrão e o corpinho! E DIRETO para meus braços!! Todo melecado, escorregadio. Nossa que alegria e que alívio! Mamou de primeira e bastante! PERFEITO!! Assim nasceu DAVI, pesando 3,715kg e medindo 50 cm, no dia 16 de setembro de 2012. Entre nossa entrada no hospital e o nascimento do meu pequeno passaram-se cerca de 2 horas, apenas e lá ficamos por somente 2 dias. Se um dia a vida me permitir ter mais um bebê, ele nascerá em casa, com certeza!
Camila Abreu
Tenho 31 anos. Sou professora de Educação Infantil na prefeitura de São Paulo, formada em Pedagogia e em Educação Física. Sou apaixonada pelo meu marido e pelos meus filhos, Pedro e Davi. Sofri 3 abortos na vida, todos muito tristes. Sou viciada em ler blogs sobre maternagem, parto humanizado e afins. Depois da experiência do parto natural, acabei me tornando praticamente uma ativista!!

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