Durante a minha primeira gestação, no ano de 2007, comecei a
frequentar sites e fóruns sobre gravidez e maternidade, procurando me informar
ao máximo sobre tudo e por isso mesmo optei pelo parto normal. Peguei indicação
de uma médica em Fortaleza que me disseram fazer partos normais e fui em frente
com o pré-natal. Com 31 semanas minha US indicou placenta grau II/III e o ILA
um pouco diminuído, mas ainda dentro do normal.
A médica me mandou fazer
repouso e maior ingestão de líquidos para tentar melhorar o ILA, ultrassons 2
vezes por semana para verificar se o fluxo do cordão se mantinha normal e
injeção para amadurecer os pulmões do bebê pois provavelmente minha gestação
não seria a termo e o nascimento seria antecipado através de uma cesárea. Fiquei apreensiva pela saúde do meu filho e
não questionei em nenhum momento a decisão dela.
Meu filho João Paulo nasceu às 36 semanas às
19:00, passou a noite na UTI em observação por causa de uma taquipnéia
transitória, que a neonatologista nos informou ser um desconforto respiratório,
comum em bebês que nascem de cesárea, em qualquer tempo de gestação, mas que não era
preocupante. Na manhã seguinte fui amamentá-lo na UTI, ele pegou o peito de
primeira, na manhã seguinte recebemos alta. Minha recuperação da cirurgia não
foi nada agradável. Sentia dores em quase todos os movimentos e achei horrível
aquela cicatriz enorme, visível, exposta...
Na minha 2ª gestação, no ano de
2009 estava convicta na busca pelo parto normal, pois pelas informações que
peguei na net, era possível tentar um PN após 2 anos da cesárea e pela DPP
seriam 2 anos e 2 meses. Num fórum sobre
parto humanizado no Orkut , vi comentarem sobre a Dra. Bárbara Schwermann, uma
GO humanizada que atuava em Fortaleza. Na época eu tinha 2 convênios, o do
trabalho do meu marido, que era mais completo, com direito à apartamento, e o
do meu trabalho, que dava direito à internação apenas em enfermaria, mas somente neste a Dra.
Bárbara atendia.
Marquei uma consulta, falei sobre minha cesárea. Ela disse que
se eu estivesse com ela, não teria feito a cesárea, teria apenas feito um
monitoramento mais constante e se o Doppler estivesse sempre ok, não teria
porque antecipar o parto. E falou também que era perfeitamente possível tentar
este parto normal. Animei-me bastante, porém na consulta seguinte com minha GO
ela disse que poderia tentar o PN e eu me agarrei nessa promessa. Até porque
essa GO era do convênio do trabalho do meu marido e eu poderia ficar em
apartamento. Ah se eu soubesse o quanto me custaria a estadia nesse
apartamento...
Com 39 semanas, comecei a
sentir pequenas cólicas na manhã do dia 13/01/2010. Em seguida vi sair o tampão
e passei a contar os intervalos das contrações. Estavam irregulares e bem
espaçadas, algo em torno de 15 minutos. Eu na minha inocência (ou burrice)
liguei pra GO e perguntei se ela achava que eu devia ir p/ o hospital. Ela
disse que eu fosse para ela me avaliar. O Marcelo (meu marido) e eu também
achamos o mais prudente, por causa da minha cesárea anterior. No exame ela
disse que eu não havia dilatado nada ainda e que o colo estava grosso e
posterior, ou seja, nada favorável. Em vez de me mandar pra casa, ela me
internou e disse que na hora do almoço viria novamente me examinar. Chegou o
almoço, 2 cm de dilatação, colo grosso. E assim foi no decorrer da tarde e
começo da noite, pouca evolução, palavras negativas da médica, as dores
aumentando e eu sem nenhuma orientação de como fazer para aliviá-las.
Estava no
apartamento com meu marido, minha mãe e minha sogra, que fez questão de ficar
lá o tempo inteiro. Para minha agonia,
porque ela tem um sobrinho cuja filha tem paralisia cerebral em decorrência de
um parto normal malsucedido. Então sempre que a médica aparecia com seus
pareceres negativos (“a dilatação não está evoluindo bem”, “estamos nos
arriscando...”) minha sogra, apesar de não dizer uma palavra, tinha um
semblante de desespero. Pra terminar de ferrar tudo, aquele era o dia do
aniversário de casamento da doutora. Imaginem como ela tava doida para se
livrar de mim... Eu, porém, me mantinha firme e disse que preferia esperar.
Ela
saiu para jantar com seu marido. Quando voltou eu estava com 5 para 6 cm. A
madrugada foi passando, a dor chegou num nível insuportável, além do cansaço,
pois estava há quase 24 horas sem dormir, sem comer nem beber água, por
orientação da doutora, pois se tivesse que fazer cirurgia, eu deveria estar em
jejum. Às 6 da manhã do dia 14, com 7 cm, eu implorava por uma anestesia, não
tinha mais forças para suportar aquela dor. E a médica dizendo que não poderia
me dar uma epidural, pois se fosse fazer cirurgia, a anestesia seria outra.
Cheguei ao meu limite! Meu limite físico e psicológico. Não aguentei a pressão
e a dor e me entreguei à cesárea. A doutora havia me vencido no cansaço. Nasceu
à 07:00 da manhã a minha Cecília. Nem preciso dizer que o pós-parto foi uma
droga, né? Dor física e dor na alma. Nunca mais voltei a ver aquela médica, não
fui nem pra consulta de revisão da cirurgia. Sei que foi errado, mas não podia
mesmo olhar pra cara dela. Mas também não me entreguei à tristeza porque tinha
uma linda menina para cuidar. Chorei algumas vezes, mas até que superei rápido.
Bem, agora vamos à melhor parte
desta história, que é o meu VBA2C!!! Confirmei a gravidez em fev/12, já estava
com quase 2 meses e de mudança para outra cidade para qual meu marido havia
sido transferido. Mas como queria o parto em Fortaleza, perto do restante da
minha família, procurei um GO em Fortaleza e outro em Juazeiro por precaução.
Não procurei a Dra. Bárbara porque havia saído da empresa que trabalhava por
causa da mudança de cidade e perdi o convênio pelo qual ela atendia. Ainda fiz
uma tentativa com uma médica do meu convênio que havia feito um parto normal
numa amiga da minha irmã. Quem sabe ela me dava uma esperança... Mas na 1ª
consulta logo ela foi categórica: “Depois de 2 cesáreas não se pode tentar PN”.
Meus olhos ficaram marejados, mas nada havia a fazer, a não ser me conformar. A
gravidez foi passando, eu já pensando na melhor data para marcar a cesárea, de
acordo com as férias do Marcelo.
Em julho, estava em Fortaleza e
fui ao chá de bebê de uma amiga. Ela me perguntou se eu não iria tentar normal
dessa vez. Aí eu disse que não dava, pois já eram 2 cesáreas. Aí ela: “Mas eu
li tantos relatos, tem até a sigla né, VBC... não, VBAC... E tem também VBA2C,
VBA3C...” “- Como assim??” Eu pensei. Só tinha visto relatos de VBAC, como eu
nunca tinha lido esses outros??? Assim que cheguei em casa fui direto pra net e
quase virei noite devorando relatos e mais relatos de VBA2C. Encontrei inclusive relatos em listas antigas
sobre parto humanizado em Fortaleza no Orkut.
Tão antigas que quase todo mundo que escreveu já havia abandonado o
Orkut, só um monte de posts anônimos... E em quase todos os tópicos só falavam na
Dra. Bárbara.
Até que vi comentarem sobre uma tal Dra. Darluce e um tal Dr.
Luiz Carlos. Imediatamente abri a página do meu convênio para ver se um desses
dois faziam parte da rede credenciada e... lá estava, o primeiro nome da lista:
Dra. Darluce Brasil. Fiquei eufórica! Ainda ia passar mais uma semana em
Fortaleza, quem sabe eu conseguia uma consulta com ela. Liguei no dia seguinte
e consegui marcar para meu último dia em Fortaleza, com 33 semanas de gestação.
Na consulta ela ouviu minha história, perguntou quando havia sido a última
cesárea (havia sido há 2 anos e meio) e disse que poderíamos tentar. Disse
também que a cada cesárea o desafio era maior, mas que tentaríamos. Saí de lá
feliz e apreensiva ao mesmo tempo, pois essa expressão “podemos tentar” foi a
mesma usada pela outra GO antes do parto da minha filha. Eu sabia que o melhor
a se fazer seria contratar uma doula, mas por questões financeiras achei melhor
não ir adiante com essa ideia. Afinal agora chegaria mais uma boquinha pra
alimentar e eu tão cedo não volto a trabalhar pois não tenho familiares em Juazeiro para me ajudar
com as crianças.
Fiz uma ultra com 35 semanas em
Juazeiro e tudo perfeito: bebê cefálica, dorso a esquerda, sem circular, aprox.
2,700 kg, Doppler normal. Por esses dias eu comecei a fazer a novena a Nossa
Senhora do Bom Parto e a cada dia que rezava eu me enchia de confiança que
tudo daria certo. Cheguei de vez em Fortaleza no dia 25/08/12 com 36 semanas.
Vim antes pra não ter perigo de nascer lá. Para vocês terem ideia do “nível de cesarismo”
da GO que me acompanhava em Juazeiro, ela disse que meu parto deveria ser
marcado com 38 semanas para não ter perigo de entrar em TP e meu útero
arrebentar. Se ela soubesse que eu ia tentar normal... haha, ia ter um ataque
Nessa semana que cheguei a
Fortaleza ouvi falar do grupo VBAC no Facebook. Li vários e vários posts e fui me
inspirando em cada um deles. Sempre que
podia eu estava indo a missa além do domingo, que eu já vou sempre. No dia
29/08/12, antes de ir à missa, estava lendo um post no grupo, da Camila
Andrietta, que falava do quanto é inútil
se indignar e não correr atrás de uma equipe confiável, se entregando apenas à
sorte nas mãos de um médico de convênio. A partir dali decidi que precisava mesmo
de uma doula. Não me via passando de novo por um TP estressante, mal orientado,
desumano. Na missa, eu senti uma confiança muito grande à medida que a leitura
da liturgia do dia era proclamada
“Naqueles dias,
o Senhor dirigiu-me a palavra dizendo: «Tu, porém, cinge os teus rins,
levanta-te e diz-lhes tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles; se não,
serei Eu a fazer-te temer na sua presença. E eis que hoje te estabeleço como
cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo
este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da
terra. Far-te-ão guerra, mas não hão-de vencer, porque Eu estou contigo para te
salvar” Jer 1, 17-19.
Liguei no dia seguinte (30/08/12)
para uma enfermeira obstetriz que é uma das responsáveis pelo Instituto Ishtar
em Fortaleza, e inclusive ela havia sido minha colega nos tempos de escola, a
Semírames. Marcamos uma reunião no dia 04/09/12 com a doula Kelly Brasil, que é
a outra responsável pelo Instituto.
No fim de semana o Marcelo ainda
estava em Juazeiro e a previsão era chegar aqui no feriado (7/set). Ele me
falou que havia feito uma oração pelo parto e ao tirar uma palavra
“aleatoriamente” da Bíblia, Deus havia dado esta passagem para ele rezar: Jer
1, 17-19 (!!!). Que confirmação do Senhor! Agora eu não tinha medo que nada
desse errado.
Eis que exatamente no dia da reunião (04/09/12)
eu acordo com um pouco de água encharcando minha calcinha. Estimei a quantidade
em umas 3 a 4 colheres de sopa, devia ser uma rotura alta da bolsa. Na minha inexperiência, liguei pro meu marido
e falei que era melhor ele vir imediatamente de Juazeiro, pois eu estava com
uma pequena ruptura na bolsa. Fui à reunião tranquila, lá conheci a Kelly, muito
simpática, e ficou combinado que ela me acompanharia no meu parto. Quanto à
rotura, a Semírames me explicou que não havia motivo para me preocupar, que
isso por si só não seria indicação de cesárea e que as roturas altas muitas
vezes acabam por se fechar. Me indicou tomar 1g de vitamina C a cada 12 horas
para prevenir infecções, dobrar a ingestão de líquidos (de 2 para 4 litros) e
que no mais eu poderia manter minha rotina normalmente. Disse para eu entrar em
contato com a Dra. Darluce e que ela provavelmente solicitaria uma US pra
confirmar se o nível do líquido estava ok. Nessa altura o Marcelo já estava
encarando as 7 horas de estrada de Juazeiro do Norte para Fortaleza.
Combinei com o Marcelo que só contaríamos sobre minha
tentativa de parto normal para meus pais e minhas irmãs e só porque eles teriam
que nos ajudar com as crianças quando eu entrasse em TP. A família dele e os
amigos só saberiam quando eu estivesse no hospital e no expulsivo. Não
queríamos criar expectativas nem preocupações a ninguém.
Nos dias seguintes sempre saíam algumas gotas de líquido
amniótico e eu só pedia a Deus para minha princesa chegar logo, antes que essa
perda ficasse preocupante. E eu já estava com 38 semanas. No sábado fui fazer a
US, o médico que fez disse que o ILA estava baixo e eu gelei. Fiquei nervosa
esperando sair o laudo e quando vi tava 10,7... Totalmente normal. Na noite de
sábado para domingo senti 2 contrações com cólica bem leve. Quando acordei até
achei que pudesse ser impressão minha, de tanta vontade que eu tinha de sentir
logo dor. O domingo (09/09/12) foi passando e apenas algumas contrações
indolores apareceram. À noite na missa eu estava bem indisposta e passei o
tempo todo sentada. No finalzinho da missa eis que senti algumas colicazinhas.
Depois fui lanchar com o Marcelo e o João Paulo.
Cheguei na casa da minha mãe por volta de 23:00 hs e as
cólicas começaram a aparecer em todas as contrações. Arrumei algumas coisas que
faltavam e à meia-noite comecei a contar os intervalos das contrações num
aplicativo que baixei no celular (Contraction Timer, recomendo demais). Estavam
um pouco irregulares, mas a maioria estava dando por volta de 5 minutos. Liguei
para a Semírames e ela me orientou a tentar descansar um pouco e tomar um chá
de camomila para tentar relaxar. Tomei um banho, tomei o chá e fui deitar
sozinha no sofá da sala. Não queria incomodar ninguém.
Por volta de 2 horas da
manhã a dor ficou muito forte. A cada contração eu colocava as pernas para cima
nos braços do sofá e ficava balançando e gemendo, não muito alto, para não
acordar ninguém. Umas 5 horas eu comecei a contar os intervalos novamente e
estavam com 3 min ou menos. Algumas vinham praticamente em cima das outras.
Liguei pra Kelly e combinamos de nos encontrar no hospital. Liguei também para
a Dra. Darluce e ela estava saindo de um plantão num município vizinho e falou
que iria direto para o hospital. Nessa altura as dores estavam pegando mesmo.
Não via a hora de chegar logo num apartamento e ficar mais à vontade. Mas antes
a Dra. foi me examinar e disse que eu estava com 5 cm, mas com o colo grosso e
por isso achava que o TP iria se prolongar um pouco. Isso eram umas 07:30, eu
acho. Já estava me desanimando para entrar pela tarde e quem sabe pela noite
com essas dores insuportáveis.
A Dra. saiu da sala de exame para solicitar minha
internação e voltou com a notícia de que teríamos que ir para outro hospital,
porque naquele a UTI neonatal estava sem vagas. O Marcelo ligou para outra
maternidade que ficava próxima e lá tinha vaga. Cheguei na recepção com muita
muita dor e aceitei a cadeira de rodas que o porteiro ofereceu. Quando sentei
sentir escorrer um bocado d’água. Fui levada ao quarto, a Kelly perguntou se eu
queria ir para o chuveiro e ficou enchendo a bola. Quando abri o chuveiro...
surpresa! Não tinha água quente. Informaram-nos que só tinha água quente no 1º
andar e todos os apartamentos de lá estavam ocupados. Só teria numa suíte onde
precisaríamos pagar a diferença de R$ 240,00. No banheiro depois de uma
contração veio um bocado de sangue. A Kelly disse que era bom, era sinal que o
colo estava sendo trabalhado. E a dor forte, forte, forte. Cheguei naquele
ponto de pensar “Pra que fui inventar isso, devia ter feito outra cesárea e
pronto!” Por orientação da Kelly eu tentava respirar ao invés de me debater e
gritar. A respiração ajuda mesmo a manter o equilíbrio, mas confesso que tinha
horas que não conseguia e me contorcia. E a Kelly “Deixa a dor vir, é seu corpo
de abrindo e o bebezinho chegando.” Não tem jeito, é o momento de ficarmos
amigas da dor
O Marcelo foi acertar a diferença para irmos pra essa suíte
e em seguida desceu para comprar algo para comermos num supermercado em frente.
Acho que eram umas 8 e meia para 9 horas. Comecei a sentir vontade de fazer
força nas contrações, eram os puxos. Quando colocava força sentia mais água
escorrendo. A Kelly fazia massagens nas minhas costas e colocava compressa
quente. A Dra. Darluce veio me examinar e eu estava com 9cm! E já sentiu a Ana
Luíza também!!! Bendito seja Deus! Em menos de 2 horas eu tinha dilatado quase
todo o resto. Liguei pro Marcelo e ele veio correndo do supermercado. Desistimos
então da transferência para a suíte, agora eu não ia mais precisar da água
quente. Sentei na cama e a Kelly sentou na minha frente com uma faixa que ela
colocou por trás das costas dela e que era para eu segurar e puxar enquanto
fazia força nas contrações. Sugeriram que eu fosse pra banqueta e a Kelly
sentou na minha frente com a faixa para eu puxar também. A luz estava apagada e
elas seguravam uma lanterna. O Marcelo ficou sentado atrás de mim, segurando
minhas costas. Ia ser um parto lindo...
Nesse momento, as coisas começaram a desandar um pouco. As
enfermeiras do hospital começaram a adentrar o quarto e queriam porque queriam
me levar para o centro obstétrico. Além de ser totalmente fora do protocolo ter
a criança no apartamento, elas devem ter ficado desesperadas quando leram na
ficha que eu já tinha uma cesárea. E olha que eu omiti a outra, a mais recente.
Só não omiti as duas porque enfim elas veriam a cicatriz. A Dra. Darluce ainda
tentou contornar, mas elas ficaram pressionando. Enfim, disseram que eu teria
mesmo que ir, que eu teria lá todas as condições do apartamento e blá blá blá.
Claro que eu sabia que jamais seria como no apartamento, mas resolvemos ir
porque já tava complicando pro lado da doutora e eu não queria que ela fosse
impedida de entrar nesse hospital por minha causa.
No centro obstétrico o cenário era um frio danado, uma
iluminação que parecia o sol, um batalhão de enfermeiras e auxiliares e aquela
maquinha com o apoio para as pernas. Me deitei e coloquei minhas pernas no
apoio, aí uma auxiliar amarrou minhas pernas. E eu: “Por que estão me
amarrando, não quero ficar amarrada!”. Aí o Marcelo pediu para me desamarrarem.
Perguntei se não podia aumentar a temperatura, me disseram que não. Depois de
toda a preparação o ritmo voltou ao normal: contrações, dores horríveis, força.
Alguém disse que estava vendo a cabecinha e que no máximo em 2 min ela
chegaria. A Kelly sugeriu que eu ficasse de cócoras e a Dra. concordou. Fiquei
de cócoras na maquinha mesmo, a Kelly segurando um ombro e o Marcelo
outro. A cada contração eu fazia força e
gritava de dor. A Dra. achou melhor fazer um cortinho para ajudar. Depois do
corte, na próxima força que eu fiz, lá veio a Ana Luiza inteirinha!!!!!
Que
coisa linda minha filhota!!! A primeira coisa que fiz foi olhar pro Marcelo e
dizer: “Eu consegui!” Ao mesmo tempo que ele dizia: “Conseguiu amor!” E me deu
um beijo, com máscara e tudo. Puseram a maca na posição semi-sentada e
colocaram-na no meu colo. Não deu pra colocar no peito porque o cordão era
curto, não alcançava. Fiquei fazendo carinho nela e quando o cordão parou de
pulsar o Marcelo cortou. Pouco depois saiu a placenta. Daí a pediatra levou a
Ana Luiza com o Marcelo e a Dra. Darluce ficou fazendo os pontos. Eu estava nas
nuvens... Pode não ter sido perfeito, pode ter sido cheio de intervenções, mas
pelo menos foi normal. Tudo que eu queria era apenas um parto normal. Se
pudesse ter sido humanizado, melhor. Mas não me entristeci nem um pouco, foi um
parto muito desejado, batalhado. E eu consegui!!!
A recuperação não posso dizer que foi maravilhosa. Tive um
pouco de dor nos pontos porque teimei em deitar em rede nos primeiros dias e
pra levantar tinha que fazer força na região e acho que acabou inflamando
alguma coisa. Mas foi só abolir a rede que melhorou. Senti um pouco de dor
muscular pela força, culpa do meu sedentarismo. Mas essa foi bem leve. E senti
também uma dor no cóccix nos primeiros dias e ficou um pouco ruim para sentar.
Mas nada como aquele corte horrível na barriga, onde dói pra levantar, pra
deitar, pra andar, pra tossir, pra rir.
Queria agradecer a todos que fizeram este parto possível. À
Dra. Darluce, que poderia muito bem se render à praticidade e previsibilidade
das cesáreas. À Kelly e à Semírames, que disseminam em Fortaleza a semente do
parto humanizado. Aos familiares (os que sabiam) que torceram e rezaram por
mim. Agradeço muito ao Marcelo, que ficou temeroso no início, mas que depois me
apoiou totalmente e disse que faria o que fosse possível para tornar meu sonho
em realidade. Valeu a pena viver essa experiência principalmente por ter você
ao meu lado. E sou grata eternamente a Deus, que abriu todos os caminhos para
que tudo desse certo. Até às 32 semanas eu estava conformadíssima com a cesárea
e de repente tudo virou do avesso. Quer dizer, estava tudo do avesso e Deus
virou para o lado certo. Hoje sei que “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl
4,13)
Para as outras mamães que sonham com um parto normal, tenho
a dizer que lutem pelo seu sonho, vale a pena. Não acreditem no médico do
convênio que diz que fará seu parto normal. Nas últimas semanas ele vai
inventar uma desculpa qualquer para fazer uma cesárea. Faça uma varredura em
todos os fóruns, listas, grupos e sites de parto humanizado e só confie nos
médicos indicados e referendados pelas outras mães. Contrate uma doula, é
fundamental. Só abra mão se não puder mesmo pagar. E ponha sua confiança no
Senhor, pois Ele nos criou perfeitamente capazes de colocarmos nossos filhos no
mundo.
Bruna da Silva Almeida Dutra
Tenho 32 anos, sou casada, psicóloga, mas há um ano me dedico somente
aos filhos. Sou natural de Fortaleza e resido há um ano em Juazeiro do
Norte.

O trabalho Relato de VBA2C: O Parto da Ana Luiza de Bruna da Silva Almeida Dutra foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
Este texto possui uma licença Creative Commons BY-NC-SA 3.0. Você pode copiar e redistribuir este texto na rede. Porém, pedimos que o nome da autora e o link para o post original sejam informados claramente. Disseminar informação na internet também significa informar a seus leitores quem a produziu.
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