Minhas
cesáreas
Minhas
dores... Ainda choro quando me lembro delas... Considero que fui violada. Meus
filhos foram violados. Fomos roubados; nos roubaram a
experiência do nascimento!
Eu tinha
vinte e poucos aninhos na primeira gravidez. Sempre quis parto normal. O meu GO
daquela época falou que acompanharia meu parto normal. No dia em que comecei a
sentir as dores fui para o hospital e me examinaram ao chegar, falaram que
estava tudo bem, mas que ia demorar um pouco ainda pois
era o primeiro filho. Fui para o quarto e me deixaram sozinha. O pai do meu
filho estava na Holanda e minha mãe não era autorizada a entrar. Estava tranqüila, fazendo exercícios. Quando as contrações ficaram
espaçadas de 3 em 3 minutos, chamei a enfermeira e
pedi para alguém vir me examinar só para ver se tudo estava ok. Ela falou que
ia ligar para o meu médico e logo depois, veio para me levar para o centro
cirúrgico. Eu falei: “mas ainda não está na hora!”, ela respondeu: “está sim”.
Levaram-me ao centro cirúrgico, me amarraram, me deram
anestesia e me fizeram uma “cesárea surpresa”. Não me examinaram, nem abriram
minhas pernas, não me consultaram não me respeitaram. Quando tomei a anestesia
me dei conta do que estava acontecendo, mas era tarde demais.
O médico
chegou com uma cara de mau humor e de sono, arrancou o Tomás da minha barriga e
só comentou: “às vezes o bebe está em perigo”. Eu chorei o tempo todo. Fui para
a recuperação chorando, mal vi meu filho, mostraram sua carinha e o levaram
embora. Fui para o quarto chorando e a mesma enfermeira veio me perguntar o
porquê eu estava chorando. “Porque me fizeram uma cesárea”.
Ela
respondeu: “Mas você não queria uma cesárea?”
“É lógico
que não!”
Aí ela falou:
“Nossa que estranho, seu médico mandou fazer a cesárea por telefone!”
No meu
segundo parto queria que as coisas fossem diferentes. Me informei
sobre parto humanizado, fui nos encontros de parto de cócoras na Unicamp e
procurei um médico que se dizia humanizado. Fazia palestras, até trouxe o
Michel Odent para Campinas...
Tentaram me
avisar que ele não era mais o mesmo, que andava fazendo cesáreas demais,
principalmente quando o TP caía num dos dias “ocupados” dele. Não acreditei,
não quis mudar, não ouvi.
Entrei em TP,
cheguei no hospital com 5 cm de dilatação as 8 horas
da noite. Por volta das dez horas da noite, com 7 cm
e tudo numa boa, eu estava com uma doula querida, fazendo exercícios, o tal
médico começou a fazer terrorismo: “o bebê está alto, vou furar sua bolsa. O
bebe não desceu, é cesárea agora ou ele vai estar em perigo”. As onze da noite Theo nascia de cesárea... Eu fiquei um bom
tempo querendo acreditar que essa foi necessária, até levar um chacoalhão na lista do materna (yahoo groups). Vi várias mulheres
com a mesma situação durante o TP que eu tendo lindos partos naturais... Além disso fiquei sabendo que o tal médico fazia igualzinho
com várias mulheres, bastava entrar em TP à noite, ou no fim de
semana/feriado... Me senti uma idiota. Não era
possível que me deixei enganar pela segunda vez! Essa, talvez, foi a cesárea mais dolorida...
Peregrinação
para encontrar a equipe certa na Bélgica
Em 2006 nos
mudamos para a Bélgica. Engravidei pela terceira vez nas minhas férias de fim
de ano no Brasil. Comecei a sentir os sintomas da gravidez já na Bélgica. Fiz o
teste, deu positivo. Fiquei radiante... No entanto, tive um sangramento grande,
parecia menstruação. Por isso marquei consulta no hospital universitário de Leuven. Fiz ultra-som,
tudo bem com o bebê, mas tive um pequeno descolamento de placenta. Tive que
ficar de repouso absoluto por um mês.
No hospital
universitário queriam me marcar uma cesárea:
procedimento do hospital em mulheres que tiveram duas cesáreas prévias.
Procedimento desse hospital e de vários outros para o meu desespero!!! Na Bélgica fazem cesárea em último caso; uma mulher que
teve duas é porque realmente teve problemas nos partos anteriores, geralmente
desproporção céfalo- pélvica. Não era meu caso, como
fazê-los entender?
Dessa vez
seria diferente. Eu tomaria as rédeas do meu parto, eu seria a protagonista, eu
tomaria as decisões!!!
Eu não
aceitei a cesárea que quiseram me dar e depois que tive certeza, por meio dos ultra-sons seguintes, que o
descolamento não aumentou, ao contrário, sumiu, comecei a procurar uma parteira
para me acompanhar no parto. Fui procurar as parteiras independentes, estas é
que acompanham partos humanizados na Bélgica sem os procedimentos amarrados dos
hospitais e suas interferências. Queria em casa ou em casa de parto. As
parteiras aqui acompanham apenas partos de baixo risco e embora eu explicasse
que minhas cesáreas foram desnecessárias, elas não aceitavam me acompanhar..
Bati em
várias portas. Não desanimei. Me indicaram as duas
parteiras mais experientes da Bélgica. Uma delas falou que havia a
possibilidade de tentar um parto natural, mas no hospital com o médico. Eu não
quis. A outra, a Kitty, aceitou acompanhar meu parto
no hospital. Falou que em casa ou na casa de parto após duas cesáreas não era
possível na Bélgica. A Kitty falou que tinha um
hospital em Antwerpen em que havia a flexibilidade da parteira independente
acompanhar o parto humanizado no quarto do hospital e que se tudo desse certo, poderia voltar para casa no mesmo dia com o bebê. O quarto
teria bola, banheira, ela levaria a cadeirinha de cócoras eu poderia levar meu
som. O médico que trabalha nesse hospital, o Shabam,
é uma pessoa bem flexível e adepto do parto natural e humanizado. É um cara de
confiança da Kitty. Eu faria as ecografias e alguns
exames com ele e ela faria o resto, inclusive o pré-natal. Ele viria durante o
parto uma vez para ver se estava tudo ok e entraria em cena apenas se fosse
necessário.
Simpatizei
muito com o Shabam, na primeira consulta ele não
titubeou quando falei a ele que queria parto natural após 2
cesáreas. Ele falou, “ok, você pode tentar, semana passada tivemos um caso
assim e foi parto natural”. Expliquei a ele que eu ia ser acompanhada pela Kitty, e ele só falou: “você está em boas mãos!”
O parto
A partir das
38 semanas comecei a sentir as contrações cada vez mais, sem dor, mas vinham
com mais freqüência. A Kitty
passou a vir me atender em
casa. O bebê não estava encaixado e estava alto, mas a Kitty nunca me fez terrorismo por causa disso. Por sinal, o
bebê continuou assim até o dia do trabalho de parto, ele só encaixou na hora.
Continuei minha vida normalmente para tentar não ficar ansiosa demais se
passasse das 40 semanas. Me afastei do orkut , do e-mail, das listas, tudo que pudesse me deixar
ansiosa... Minha mãe iria chegar no dia 20 de setembro e eu ficaria mais tranqüila, pois teria com quem deixar as crianças à noite
se entrasse em TP durante a madrugada. Tenho uma amiga que se propôs a ficar
com os meninos caso isso ocorresse antes da minha mãe chegar, mas mesmo assim,
mãe é mãe... Peguei uma virose na escola dos meninos e tive tosse e diarréia e enxaqueca no dia 17 de setembro. Dia 18, fui
fazer monitorização no hospital, um saco, mas é o procedimento depois de 40
semanas. Dia 19, comecei a tomar o chá de framboesa com vrouwenmanthel
e tomei o banho de banheira com sharlei, ambos
receitados pela Kitty. Não é que as contrações
aumentaram?
À noite tive
um alarme falso, cheguei a pedir para o Ramon cronometrar. Pensei na minha mãe,
quem iria buscá-la na Gare du
Midi caso eu entrasse em TP? As contrações amenizaram
e eu dormi. Sabia que estava perto.
No dia 20,
voltei a tomar chazinho. Minha mãe chegou com duas tias muito queridas às 2 da
tarde e eu passei um dia super gostoso. Conversamos, matamos a saudade, rimos! E eu
sentindo contração sem dor o dia inteiro. Às 7 da noite comecei a sentir
contração com uma dorzinha leve. Acho que Rebecca só estava esperando a avó
chegar... Às 8 da noite fui numa reunião na escola dos meninos. A dorzinha
vinha de 15 em 15 minutos mais ou menos. “Será hoje?”, pensei. No fim da
reunião, avisei a professora que se o Theo não viesse na escola amanhã é porque
a Rebecca nasceu.
Voltei para
casa, fiquei conversando mais um pouco com minha mãe e fui tomar o banho de
banheira com sharlei novamente. Tão relaxante! Saí de
lá sentindo mais dorzinhas...
Eram 10 da
noite quando liguei para a Kitty avisando que as
contrações estavam vindo com uma certa freqüência e com dor. Ela falou para eu esperar uma hora, e
que se continuasse, para ligar para ela novamente. Depois de uma hora elas
continuaram e começaram a ficar cada vez mais fortes. Kitty
falou para eu ir para o hospital quando as contrações viessem de 5 em 5 minutos. Avisei minha mãe, acabei de arrumar as
coisas; fechei a mala, peguei as almofadas, o salsichão, só esqueci os CDs que
tinha separado para levar. Sorte que o Ramon tinha um CD maravilhoso do Bread
no carro, sonzinho que lembrava a época que nos conhecemos.
Saí de casa à
uma da manhã, xingando por que era um saco ter que ir
para o hospital, e estava já bem dolorido, mas nada demais... Minha mãe viu que
as contrações estavam próximas e ficou preocupada de eu não chegar a tempo em Antuérpia. Só
falei, “mãe, sossega, se Rebecca nascer no carro é
porque ela nasceu bem”, hehehe! Estava muito feliz e tranqüila.
No carro fui
ouvindo Bread e a cada contração eu rebolava na cadeira e fazia respiração de
yoga. Estava tudo muito bem.
A Kitty me avisou de tudo o que aconteceria no hospital. Ela
me falou que o único procedimento chato seria uma monitorização que eu teria
que fazer durante meia hora... deitada. No mais, não
teria camisola do hospital, nem gente entrando no quarto, nem nada...
Cheguei no hospital preparada para isso. Era por volta de uma hora
da manhã. Fui a pé até o quarto e lá a enfermeira colocou o monitor. A Kitty ainda não tinha chegado. Eu conseguia ver que as
contrações estavam altas e próximas uma da outra, mas... Começaram a ficar mais
baixas e espaçadas... É ...constatei pessoalmente que
hospital brocha!!! Se eu pudesse não pensaria duas vezes em fazer em casa...
A Kitty chegou e notou que o batimento que o aparelho estava
pegando não era o do bebê e sim o meu... Ela ajeitou o aparelho e pegou o
batimento do bebe. Que saco! Fiquei apreensiva em ter que ficar ali por mais
meia hora. A Kitty falou que não me deixaria ali por
mais meia hora, ela só esperaria mais duas contrações e me liberaria daquilo. As
danadas demoraram a vir, estavam realmente espaçando... Ela notou isso na hora,
e falou que era normal acontecer isso quando as mulheres chegam no hospital. Ela viu que estava tudo ok depois das duas
contrações e tirou o aparelho de mim. “Agora acabou, você precisa voltar a se
sentir em casa!”. Arrumamos o quarto de modo mais aconchegante, ligamos um som,
ela trouxe uma bola. Eu fiquei na bola rebolando durante as contrações e ela me
trouxe um chazinho gostoso.
Estava
feliz, dançava durante as contrações e Ramon só ria! Senti que as contrações
voltavam a ser mais intensas. Kitty decidiu fazer o
toque. Eram pra lá de duas horas da manhã. Surpresa negativa...1cm
apenas! Poderia ter entrado em parafuso... Tentei manter a calma mas comecei a pensar: “vai demorar pra cacete, vai demorar
dois dias!!! Tô ferrada!!!”.
Já estava
doendo razoavelmente... Ramon falou então: “isso não quer dizer nada, pode
abrir tudo de repente.” E a Kitty confirmou “isso
mesmo!”
Voltei para
a bola, respirei fundo para relaxar e pensei: “vamos lá!”
A Kitty saia do quarto para me deixar mais à vontade e eu
comecei a dançar durante as contrações que ficavam mais doídas. Comecei a chamá-las!
“Venham e tragam minha filha para meus braços!” Ramon estava cochilando no sofá
e eu falei para ele dormir na cama, eu chamava quando precisasse, não ia usar a
cama para nada mesmo! A Kitty voltou e perguntou se
eu não queria entrar na banheira. Eu disse que sim, e durante as contrações
cada vez mais fortes e próximas eu ficava de cócoras.
Comecei a
conversar com a Kitty nos intervalos: “Poxa, não
entendo, como pode em casa estarem de 5 em 5 minutos,
chegar aqui espaçarem e estar só 1
cm!!!”
A Kitty respondeu: “Pára de pensar!!! Pára de pensar agora! Chama a
Rebecca, mentalize as contrações para baixo, para baixo, para baixo”.
E foi isso
que fiz. Parei de pensar e me entreguei ao trabalho de parto. Deixei de notar
as horas, parei de prestar atenção de quanto em quanto tempo as
contrações vinham. A onda forte do trabalho de parto me pegou, e me deu um
baita caixote!!! Aquele caixote que parece que você
está dentro de um liquidificador, rola rola,
aspira água, se rala e perde o controle do seu corpo, só se dá conta quando
esta deitada na areia com o biquíni todo torto! Tomei vários caixotes na
infância, quando passar as férias no Rio de Janeiro e adorava entrar no mar
para pegar onda quando as estas estavam enooormes! É
o melhor modo que posso explicar o que senti durante o trabalho de parto: um
caixote!
A Kitty perguntou se eu não queria tomar um remedinho
homeopático para ajudar nas contrações, eu aceitei e ela trouxe uma poção
mágica misturada com água. Eu tomei aos pouquinhos. As contrações vinham cada
vez mais e eu resolvi sair da banheira. O bicho estava pegando... Me deu vontade de ir no banheiro. Me
fechei no banheiro e vomitei. Sabia que era normal vomitar, tinha
lido nos relatos de parto que depois disso as mulheres se sentem melhor, e foi
o que ocorreu comigo. Depois disso, perdi o tampão.
Aiaiai, contrações fortes meeeesmo. Tive uma diarréia e
coloquei tudo para fora. A natureza é sábia. Eu sabia que meu corpo estava se
limpando para a chegada do bebê. Eu sabia que estava dando certo. Eu sabia!
Mais contrações e comecei a subir pelas paredes. Dentro do banheiro andava para
lá e para cá, muito rápido, tinha que andar, quase
correr! Batia na parede e voltava, parecia o carrinho do meu filho... Comecei a
gemer alto, precisava soltar aquilo dentro de mim, e gemia, gemia.
Sai do
banheiro e veio mais uma contração bem doída! Começou a doer as
costas e eu andava muito rápido para lá e para cá o tempo todo, não sei de onde
saiu aquela energia toda. Eu não parava quieta. Não imaginava que ia ter vontade
de quase correr... Eu tinha que andar e colocar a pélvis para frente, deve ter sido uma cena engraçada, por isso a importância
de nos sentirmos a vontade, sem ninguém estranho no local do trabalho de parto!
Eu não me inibia com a presença daqueles que confiava,
Kitty e Ramon. Falei para a Kitty:
não tem mais posição boa, não tem!!! Não tem!!!
Ela notou
que estava indo bem rápido, falou para eu voltar para a banheira e falou para o
Ramon posicionar a ducha nas minhas costas na hora da contração. Eu berrava
mesmo, sem dó. Lembro-me que teve horas que chamei por minha filha, vem
Rebecca! Vem!
Kitty fez o toque e...7
cm. Aí eu levantei, fiquei de pé na banheira segurando com uma mão, a mão do
Ramon e a outra mão a da Kitty. As contrações vinham
entre intervalos muito pequenos... Eu comecei a gingar o corpo para lá e para
cá e jogar a cabeça de um lado para o outro. Ramon falou que eu parecia em transe. Eu entrei na partolândia. O Dr. Shaban entrou
no quarto nesse momento (não o vi) e perguntou, tudo
ok? Kitty respondeu: 7cm.
Ele falou: ótimo! Virou as costas e saiu do quarto. Foi muito discreto.
Quando eu
gingava o corpo a Kitty gingava o corpo dela junto
com o meu. Aí comecei querer fazer força. Ela pediu para esperar mais um pouco.
Durante mais uma contração eu gritava que precisava fazer força, e fazia
realmente um pouco de força, era muito difícil de controlar! Ela fazia a
respiração cachorrinho para eu fazer também, eu tentava, mas tinha que fazer
força... Ouvi a Kitty falar para o Ramon que o bebê
estava muito baixo e que já tinha passado pelo lugar mais difícil da pélvis.
Veio mais uma contração e eu berrava e reclamava que
estava doendo e que precisava fazer força. Aí ouvi a voz suave do Ramon lá
longe, pois eu estava longe e a voz dele parecia que vinha do fundo de um poço:
“Pri a bebê já passou por aquele lugar mais difícil,
está perto, Pri, é o seu sonho, aquilo que você
sempre sonhou, está perto! Calma, está pertinho, muito perto.”
As palavras
do Ramon foram uma injeção de ânimo para mim. E durante um pequeno intervalo,
abri os olhos e agradeci a Kitty, falei: “Você é
maravilhosa, obrigada, e você também Ramon, você é maravilhoso!” E pumba,
outra contração e voltei à partolândia! E comecei a
falar que precisava ir ao banheiro AGORA! Kitty me
falou: não você não pode ir ao banheiro, esse não é um bom lugar... Aí falei
que precisava fazer cocô. Ouvi ela dizendo para o
Ramon: “não é cocô Ramon, é o bebê!!!”
De repente,
entrou uma fase de calmaria... A dor forte das contrações
pararam. Eu sentei na banheira. A Kitty me
falou que agora eu podia fazer força. Ela perguntou se eu queria sair, sentar
na cadeirinha de cócoras, me perguntou o que eu queria fazer. Eu respondi: “Aqui
na banheira está bom. Quero ficar aqui!”
Me
encostei na
banheira, respirei e esperei um pouco. Silêncio. Reuni minhas forças e comecei
a fazer força. Kitty falou para eu olhar em direção a
vagina e fazer a força de “soprar o balão”. E eu fiz. Aí parei, respirei,
esperei mais um pouco. Ramon falava: “Lembra, tudo tem seu tempo”. Aí reunia
minhas forças e empurrava!
Comecei a
sentir não exatamente uma dor mas uma ardência na
vagina. Era o círculo do fogo que tinha lido tantas vezes nos relatos. Fiz mais
uma força e mais uma! A Kitty falou para eu sentir a
cabeça da Rebecca. Eu pus a mão e senti sua cabecinha. Acho que fiz mais umas
duas forças e a Rebecca saiu pluft, na água, minha peixinha! Veio direto deitar sobre meu peito. Eu não
acreditei na hora. Ela veio tão pequenininha e chorando. Rebecca nasceu as 6:15h do dia 21 de setembro de 2007.
A Kitty esquentou a água e colocou uma toalha para deixar a
Rebecca quentinha. Ramon cortou o cordão quando este parou de pulsar. Fiquei
abraçadinha com ela, e ouvia o Ramon vibrando ao lado. Ainda sentia uma cólica.
Logo a placenta saiu. Dr Shaban
veio me desejar os parabéns nessa hora.
Sai da água
e fui deitar com a Rebecca na cama. Nos enrolamos nas
cobertas e fiquei olhando minha filha. Ela não quis mamar naquele momento. Eu
olhei seu corpinho, olhei se era mesmo uma menina... Aí a
pior parte, tive que tomar uns pontinhos (no total três). Tomei uma
anestesia local, a mesma do dentista, e tenho pavor de injeção.
Engraçado...
Tenho medo de injeção, mas não do parto, hahaha.
Enquanto dava os pontinhos, a Kitty pensava alto:
“como podem terem feito cesárea em você, você não tem
problema nenhum para parir!”.
Eu fiquei
com uma sensação de prazer por dias. Era muita ocitocina junto com a felicidade
por minha filha ter nascido. O prazer que senti é realmente algo à parte, algo
além... Me senti completa, me senti no auge da minha
feminilidade, algo ligado com meu instinto animal mesmo.
Não chorei
na hora em que a Rebecca nasceu mas chorei na hora em
que a Kitty veio se despedir de mim no hospital,
agradeci muito ela ter aceitado me acompanhar, e ela respondeu que ela gostava
de acompanhar mulheres que acreditavam em si mesmas, e eu era uma delas.
Fui para o
outro quarto andando e dei de mamar para minha filha. Apgar
dela foi 9 no primeiro minuto e o resto tudo 10. A pediatra passou por lá,
deu alta para a bebê e no mesmo dia ao meio dia
voltamos para nossa casa.
Na manhã que
fiquei no hospital, muitas enfermeiras vieram me dar os parabéns. Todas ficaram
sabendo da minha história: duas “desnecesáreas”
enterradas com um lindo parto natural.
No dia em
que minha filha nasceu, escrevi aos amigos:
“Rebecca
nasceu! Rebecca significa “a que une”. Chegou para unir a mulher dentro de mim,
despedaçada por duas experiências roubadas. Minha filha veio continuar o ciclo
de mulheres fortes na nossa família. Me sinto super mulher! Me sinto poderosa. Hoje, pari o Tomás, o Theo
e a Rebecca!!!
Rebecca
nasceu na água, sem anestesia, sem episio, sem
interferências, num parto que veio novamente para testar a minha confiança no
meu corpo de parir. Eu confiei na natureza, e me deixei levar assim como uma
onda forte que te dá um caixote. Minha filha nasceu linda e veio ficar comigo o
tempo todo! Nasceu hoje as seis da manhã e já estou em
casa.
Tenho 41 anos, engenheira civil e tenho 4 filhos. Dois meninos (nascidos
de cesárea), duas meninas, nascidas de parto natural, um hospitalar,
outro em casa. Hoje em dia moro nos Estados Unidos. Tive meus dois
primeiros filhos no Brasil e as filhas, na Bélgica.

O trabalho Relato de VBA2C: Priscila e Rebecca de Priscila Teixeira foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
Este texto possui uma licença Creative Commons BY-NC-SA 3.0. Você pode copiar e redistribuir este texto na rede. Porém, pedimos que o nome da autora e o link para o post original sejam informados claramente. Disseminar informação na internet também significa informar a seus leitores quem a produziu.

a história linda dessa moça eu conheço faz tempo. O dia q li sobre ela ter parido depois de.2 cesáreas foi o dia q acordei e busquei mais evidencias de q a minha cesarea não tinha sido salvadora como achei.
ResponderExcluirLindo relato grande mulher.
a história linda dessa moça eu conheço faz tempo. O dia q li sobre ela ter parido depois de.2 cesáreas foi o dia q acordei e busquei mais evidencias de q a minha cesarea não tinha sido salvadora como achei.
ResponderExcluirLindo relato grande mulher.
Eu tb me afastei do mundo do parto nas últimas semanas de gravidez, mas guardei os relatos mais inspiradores para reler e me fortalecer: o teu estava entre eles. Cada vez que leio me emociono igual e me surpreendo com a tua certeza, firmeza, vontade, mesmo depois de 2 cesarianas desnecessárias... Que sirva para fazer as mulheres reverem muitos dos seus conceitos e medos infundados!
ResponderExcluirLutar por seu parto em outro país, com 2 cesárea , você foi guerreira, parabéns, lindo e emocionante relato
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