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terça-feira, 14 de maio de 2013

Relato de VBAC: Ben e Fernanda

Depois do parto cesárea, na 1ªconsulta com o meu GO p/ tirar os pontos, ele já me disse que se eu fosse tentar outro era para esperar 3 meses e iniciar as tentativas. Então, assim que o resguardo acabou, eu comecei, mas não foi tão rápido quanto eu esperava. Só engravidei quando Levi tinha 1 ano e 2 meses, eu não tinha mais palno nem emprego, por isso ia ser difícil fazer tratamento de novo, indutores, hormônios, ultra, etc. Ben resolveu chegar com quase 42 semanas, dia 28 de Novembro de 2008.

Eu tinha tentado ter meu PN no primeiro filho, mas foi frustrante, entrei em trabalho de parto, fiquei 18h e tive que fazer uma cesárea de ultima hora. Depois da tentativa frustrada,eu resolvi: VOU TER MEU PN DE QUALQUER MANEIRA. Queria muito ter parto natural e me preparei para isso, fui em busca de ajuda, informação, entrei em comunidades no orkut sobre VBAC e coloquei em mente "dessa vez eu consigo". Eu queria muito, muito mesmo!

Quando comecei a sentir as contrações, era de manhã cedinho, ao acordar, fui ao mercadinho, carreguei meu filho de 2 anos no colo, andei, andei, andei, pois já tinha me informado que ficar parada não resolve nada. Fiquei sentindo a 'pressão' até a hora do almoço, só entao liguei pro marido voltar pra casa, pois achava que em breve o bb ia chegar. Ele veio correndo, apavorado, mas eu só queira ir pro hospital quando estivesse bem perto pois, se na 1ª vez eu fiquei horas em trabalho de parto, sabia que o bb não ia nascer tão rápido e como minha GO disse 2 dias antes, se eu não entrasse em trabalho de parto até segunda-feira (dia1dez), ela ia me encaminhar pruma cesárea, o que eu não queria de jeito nenhum. O mais complicado é que médico nenhum (ou quase nenhum) quer fazer um PN pós cesárea, então... Eu só fui pro hospital lá pelas 14h.

Cheguei lá e tinham 8 mães já sentadinhas lá dentro e lá fora, na sala de espera, tinha umas 3 na minha frente. Meu marido foi lá preencher papel. Eu andando apoiada na minha irmã, monitorando pelo relógio as contrações (só fui pro hospital porque estava de 5 em 5 minutos). Uma santa enfermeira me viu de longe, saiu e perguntou "você não tá bem, né?". Eu nem respondi, pois quando vinha uma contração eu respirava fundo e fechava os olhos (não gritava e nem gemia, pois não sou escandalosa, suporto bem a dor). Mas ela continuou perguntando "você já tá mal? Tá monitorando as contrações?" e uma grávida ao lado respondeu "toda vez que ela sente dor, ela fala pra imrã: diz a hora!" e minha irmã: "já está de 3 em 3 minutos!". Ela me olhou e disse: "vamos lá pra dentro!" e eu passei as 8 mães que já estavam sentadas na cadeira de rodas pra subir. Quando entrei na salinha e a enfermeira fez o toque, eu estava com 6 de dilatação. "Sobe correndo que falta pouco pra nascer!".

Então chamaram minha mãe e ela me acompanhou até lá em cima, me puseram numa cama e disseram que era sala de pré-parto. Quando o médico foi me ver, alguns minutos depois, eu estava com 7 de dilatação. Ele disse: "falta pouco agora". Aí é que foram os minutos mais demorados da minha vida...

Eu, que já tinha entrado em trabalho de parto e não tinha dado nem um pio, me vi urrando de dor. Eu pensava: "meu Deus, eu não vou gritar, não vou não!!",  mas eu não conseguia me conter e tentava ficar de boca fechada, gemia, urrava, minha mãe ao meu lado, segurando minha mão. Eu queria andar, mas a enfermeira não deixou. Ficando deitada,era bem pior. Eis que chega uma enfermeira com um soro (tava quieta, sem falar, só urrando) e eu disse:

- O QUE É ISSO?!?!?

- Soro.

- Com ocitocina?

- Por que?

- Minha médica disse que não posso tomar, tenho uma cesárea com menos de 24 meses.

- Você já fez cesárea?!?!?!? VOCÊ É MALUCA?!?!?!?

Ela levantou minha camisola e viu a cicatriz. Saiu e voltou depois:

- Agora é só soro, tá?

Não demorou muito e veio o médico, que disse que eu já estava com dilatação total e só faltava romper a bolsa. Daqui a pouco, entram algumas pessoas (pediatra, enfermeira e dois médicos), trazendo uma mesinha com alguns equipamentos. "Pronto, falta pouco agora", disse a doutora Fernanda. Eu só pensando "EU VOU CONSEGUIR, EU VOU CONSEGUIR" (pq do Levi eu fui pra sala de parto, dilatei e, depois de 30 minutos, me levaram pra cesárea - foi frustrante).

Quando a bolsa rompeu, eu vibrei! "É agora",  pensei. A médica sentou, o outro médico foi embora e minha mãe lá, segurando a minha mão (ela estava esperando alguém mandar ela sair, mas ela pôde ficar lá assistindo). A médica orientou: "na próxima contração você faz força, ok?" e eu lá, quase desmaiando. Lembrei do que uma amiga me disse: quando você acha que vai morrer é aí que o bebê vai nascer. Então eu me tranquilizei e fiz força. Eu já estava muito cansada e o pediatra deu uma forcinha, empurrando. Ele só fez força com o braço (do Levi o enfermeiro subiu em mim e o Levi não nasceu). Eu lá, fazendo força e pensando EU VOU CONSEGUIR, EU VOU, EU VOU TER MEU PN!!!

Gente eu queria muito, sabe? Minha mãe não mora aqui, eu sou sozinha, ela vai embora 15 dias depois que o bb nascer, ficar sozinha com um menino de 2 anos e um bb, com uma cesárea ia ser muito ruim.

Quando o pediatra ajudou na segunda vez, a cabeça (que não é pequena, hehehe) saiu!! A médica, com a maior calma do mundo, pediu que eu fizesse força na próxima contração pro bebê sair todinho. Eu pensando "ai, jesus, eu vou ficar aqui esperando outra contração? Com esse moleque aqui atravessado em mim? Eu não, vou fazer força agora!" e fiz. A médica estranhou, perguntou se já tinha vindo outra e eu respondi que sim. Mentira!! Eu que fiz força mesmo.

E me Ben nasceu, lindo (juro que ele nasceu limpinho). Só então eu olhei pra minha mãe e soltei a mão dela. Ela tava pálida e tremendo, eu agradeci. Ela disse: nunca mais, hein? Você não faz isso comigo nunca mais! Se você tiver outro filho, eu não venho pro Rio, eu não venho! Ela detestou assistir o parto e minha irmã lá embaixo com Levi e meu marido. Minha irmã tava doida pra assistir, mas como ninguém perguntou nada, minha mãe acabou ficando.

EU FIQUEI RADIANTEEEEEE, FELIZ DA VIDA!!! E fiquei conversando com a médica, perguntando se tinha sido feita episio, se tinha cortado muito, quantos pontos, se ia demorar e tal. Depois, quando ela foi me ver, ela falou que eu era a paciente que mais sabia do parto.

Finalmente pude dizer: empoderada de fazer meu filho nascer, tive meu tão sonhado parto normal (com ajuda do pediatra). Só depois do parto é que a médica viu minha quelóide (que é horrível). Enquanto ela me dava os pontos (precisei de sete), perguntou porque eu não quis outra cesárea.

Minha recuperação foi maravilhosa. No quarto que eu fiquei, tinha 4 mães, todas cesareadas, eu levantei a noite toda pra ajudar, pois eu era a única que andava. Cheguei no hospital 14h20 e Ben nasceu 18h22.

Eu pedi muito a Deus pra Ben nascer no dia 28, que era uma sexta,  ou nascer depois de segunda, pois era aniversário do Levi e eu queria estar com ele. Recebi alta dia primeiro e recebi a família à noite, com bolo e um sanduíche de metro que eu mesma fiz, com Ben no colo.

Fernanda Ribeiro
Faço 40 anos em maio e, aos 35 anos, após 14 meses de uma cesárea que me doeu na alma, me descobri grávida de novo! E decidi: dessa vez eu vou conseguir parir!!! Hoje o Ben já está com 4 anos!

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