Amanhã eu
tenho mais uma palestra sobre Criação com Apego para realizar. De novo
numa escola, dessa vez a da minha filha, fechando a semana da família. O
tema do último dia desse evento é "Amor".
Confesso que estou com frio na barriga, um pouco bastante
insegura, pois a última palestra minou minha confiança. E olha que,
quando se trata de falar em público e defender idéias e ideais, eu
costumo ser até mesmo arrogante de tanta confiança que demonstro. Não só
demonstro, como sinto e a passo ao público. Eu me preparo muito, para
dominar o assunto o máximo possível. Mas meu último público foi bem
hostil comigo e dessa vez a confiança não está beirando a arrogância.
Aliás, está bem longe disso.
Quebrei
muito a cabeça sobre formas de alcançar esse público (na maioria mães,
talvez alguns pais) de forma empática, subjetiva e (por que não?)
afetiva. Concluí que talvez a melhor forma fosse utilizar imagens. Com
isso, montei um vídeo. Fui além: lancei a idéia em alguns grupos que
participo e que são da minha região e pedi pra mulherada que participa
desses grupos me mandar fotos que demonstrem os oito princípios da
criação com apego (a saber: preparação para gestação e parto e criação,
alimentação com amor e respeito, responder com sensibilidade, contato
afetivo, sono seguro, cuidado consistente e amoroso, disciplina positiva
e equilíbrio entre vida pessoal e familiar). Queria o máximo de
realidade possível, incluí fotos minhas, para que quem veja o vídeo
perceba que é mais fácil e natural do que parece, que todos podemos
criar dessa forma. Meu intuito é que as pessoas criem identificação com o
que veem, pensem "olha, poderia ser eu naquela foto!".
Muita
gente me mandou fotos. O mais legal é que tem fotos de mulheres que
conheci pessoalmente ao longo do meu processo de "humanização da
maternidade", fotos de ativistas, de amigas. Particularmente, ficou um
vídeo muito afetivo, pois essas fotos são carregadas de significado pra
mim. As músicas que estão ali como pano de fundo tocam diretamente minha
alma. Eu me emociono muito quando eu vejo o vídeo.
Enquanto
eu gravava o dvd pra levar amanhã, eu relia os textos que tenho sobre o
tema. Quando o dvd terminou de ser gravado, coloquei pra rodar apenas
pra me certificar de que estava tudo certo. Ao fim, voltei pra leitura
do meu texto. E chorei.
É
uma coisa muito louca todo esse processo. Precisei mexer em todos os
textos do blog recentemente, inclusive nos primeiros, quando o blog
falava sobre o nada, quando eu ainda nem tinha foco, apenas escrevia. E
nesses textos antigos eu vi a Elaine de antes, que criava como todo
mundo cria, que repetia o discurso aprendido cotidianamente, que seguia a
teoria à risca, desconsiderando que a prática é outra coisa. Eu li uns
absurdos que eu mesma escrevi e, confesso, tive vontade de apagar um
monte de textos. Mas não vou fazer isso. Por mais dura que seja a minha
realidade, a verdade de quem eu fui, acredito ser importante assumir
que, sim, eu mudei. Eu fiz novas escolhas, eu revi minhas verdades e
minhas atitudes. Hoje eu estou aqui, mais humana, mais maternal, mais
afetiva. Mas eu já estive do outro lado.
O
bonito disso tudo é assumir as mudanças, internalizá-las e colocar em
prática tudo o que se aprendeu. É reinventar-se diariamente, um processo
de auto-análise intenso, que às vezes assusta e até mesmo amedronta.
Sim, de fato seria mais fácil fazer tudo igual a todo mundo, repetir o
apreendido. Mas eu não quero isso.
Fico
pensando que estou ansiosa não só pelo ocorrido na palestra anterior,
mas também por saber que estarei exposta, colocando à prova minhas
próprias mudanças e convicções. Apesar de ser um tema concernente a
todos, que muitas pessoas até mesmo fazem sem saber que o fazem, ainda é
um tema que causa desconforto. Basicamente porque o que eu falo ao
longo do processo é para que as pessoas se responsabilizem por seus
filhos, sejam presentes e atuantes e, infelizmente, me parece que esse é
um artigo de luxo que boa parcela dos pais não está a fim de
adquirir...

O trabalho Apegando e Desapegando de Elaine Miragaia foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
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