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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sempre Fui Feminino (por Jorge Luiz Ricardo Furtado)





Lembra do sucesso do Pepeu? Pois é aquilo mesmo! Nunca feriu meu lado masculino. Sem crise sempre curti mais Miss Jane Marple que James Bond. Sempre tão natural que esta minha consciência do feminino foi surgindo devagar, na maturação da vida. Parte fundamental disso foi tornar-me pai.

Nasci para a paternidade aos vinte e nove e tive a sorte de a mãe, então minha mulher já havia quase cinco anos, me permitir ser o pai que tenho sido pelos últimos quase doze. Com muita desenvoltura assumi a minha parte na vida de nós três: banho, fraldas, alimentação, cuidados noturnos, idas ao médico...

Eu e ela sempre trabalhamos, e desde que casamos dividimos tudo. Não fosse assim, não houvesse esta harmonia, as coisas seriam diferentes. Se melhores ou piores eu não sei, ninguém sabe. Sabemos que estamos todos felizes com o modo como as coisas tem sido.

Não é minha intenção afirmar que todo bom pai (mas eu afirmo: sou um bom pai) precisa ter um pé no closet, não é isso, mas a minha experiência é do que eu posso falar. Há coisas na vida que a gente aprende a ver como sendo de menina, são yin. Por exemplo, além das mencionadas acima, acompanhar as lições, ajudar a estudar para as provas, preparar para escola almoço e lanches... E ir a reuniões de pais e professores! Quantas vezes fico esperando minha vez para falar com a tia tal e a mãe a ocupando numa conversa que nunca mais acaba e eu lá olhando para a lousa, a decoração da classe, enquanto as outras mães da fila alegremente esperam em outras conversas sem fim... Tem que ter saco! 

Se nada é perfeito, sempre faltam algumas coisas, futebol certamente é uma delas. Falta ir a jogos, falta assistir pela TV até, falta brigar por time... Mas falta porque meu moleque não dá a mínima para tudo isso. É influência do ambiente? É da genética? É influência? Fica para os que acreditam saber dessas coisas... 

Vez ou outra ele chega da escola e diz que jogou bola na educação física. Se um dia ele quiser ir a algum jogo, vamos, oras. Pai tá aqui, filhão! (torcendo para que isso nunca aconteça!)

Para evitar o que possa parecer é preciso dizer que a vida dele não é só flores, ele não tem duas mães. Quando precisa a mãe me passa a capivara, eu falo grosso e o moleque treme! Normalmente depois que acaba o stress a gente conversa e minha vida dedicada a ler humanidades me ajuda a fazer com que ele veja porque tive que sair da caverna e a gente se entende.

Conversando com a minha mulher sobre este texto ela me diz que hoje em dia isto é normal! Tem vários amigos no trabalho com rotinas e comportamentos parecidos com os meus. Alguns com mais facilidade, outros menos. Penso que é ótimo que seja assim, até porque nosso tempo exige isso. Nosso tempo, parece, é de quebra, de ruptura, de fim de fronteiras. Tempo de aceitar que há muito mais possibilidades que certezas. E é certo que nós, humanos, somos muito mais que as etiquetas que criamos pelo tempo. Aliás, comecei este texto afirmando uma: sempre fui feminino. Mas talvez tenha sido uma bobagem, é melhor seguir sendo, só, até o fim.




Jorge Luiz Ricardo Furtado
Esta coisa de perfil é complicada... Quem lê o texto já criou uma imagem na cabeça. Posso acrescentar algumas cores na imagem: Sou budista e ateu. Operário, estou passando pelos quarenta. Literatura, música, filosofia, sociologia, política, psicologia são algumas das coisas com que me divirto. Mantenho um blog em que escrevo sob a ótica budista. E vivo em Caçapava/SP.

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