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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Posso Chorar Agora?

Na semana que passou, realizei duas palestras em escolas particulares da cidade. Ambas foram sobre Criação com Apego. O tema mexeu muito comigo, a ponto de adoecer fisicamente (sim, senhoras e senhores, minha garganta está ameaçando inflamar e tenho uma dor quase insuportável no corpo).

Primeiro que foram emoções conflitantes durante a realização de ambas, diferentes platéias e acolhidas, diferentes níveis de estresse e uma delas exigiu adequações concretas de última hora. Eu fiquei completamente eufórica num dia, a ponto de não conseguir dormir. Eu, como profissional e ativista, estava de fato fazendo algo concreto em direção ao que acredito. Gaia Apoio Materno deixando de ser um nome e um logo e ter uma ação. Mas em seguida veio a constatação da dura realidade, de que estou, de fato, nadando contra a corrente.

Vi olhares de consternação, de desaprovação, de incredulidade. Vi pessoas incomodadíssimas com minha fala, incômodo esse estampado em posturas corporais, cochichos alterado, sobrancelhas franzidas. Sim, estou lá na frente falando, estou concentrada, sou míope e uso óculos, mas não sou cega. Eu VEJO a reação das pessoas, minha profissão me dá condições de fazer certas leituras de comportamentos e expressões corporais/faciais de forma rápida e involuntária.

Numa conversa com uma nova amiga, doula recém-chegada de Brasília, recebo dados concretos de minhas intuições e constatações de consultório: essa cidade está totalmente inconsciente e às cegas no que diz respeito a gestar, parir, criar e educar com respeito. Claro, temos exceções mas... E ainda adquiro uma informação nova na roda que participei domingo: o índice de cesarianas do Vale do Paraíba é o maior do Brasil, com cidades chegando a 98%.

Pensamento do fim de semana: posso chorar agora?

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Ao me entupir de informação pra elaborar as palestras, constatei que pratico criação com apego desde o nascimento da Pirulita. Mas venho aprimorando. Ela, como filha mais velha, sofreu muito nas minhas mãos. Não, nunca bati. Mas, seguindo modelos interno e teorias catastróficas da época da faculdade, fiz minha filha sofrer um bocado enquanto bebê. E me dói muito escrever isso. É assumir a repetição de comportamentos e dogmas sem questionamento, assumir que, apesar de ser imbuída de uma intuição altamente ativa e eficaz, eu posso ser surda, cega, muda e burra em determinados momentos. A máxima que norteia minha vida, "veja o que estiver vendo, ouça o que estiver ouvindo", às vezes é esquecida, ignorada, descartada e atropelada.

Comecei cama compartilhada com minha filha depois dos 2 anos. Já deixei ela chorando sozinha no berço algumas vezes. Já coloquei ela pra dormir e exigi dela condição de dormir sozinha quando ela não tinha ainda idade e condição para. Já fui autoritária e ríspida. Já rediquei colo e contato físico. E como me dói, meudeusdocéu, constatar e assumir isso.

Deve ter gente se perguntando como pratico criação com apego desde o nascimento dela diante disso tudo... A premissa básica: rapidamente eu constatei que a grande maioria das coisas que eu fazia causava grande sofrimento PRA ELA. A grande maioria dessas coisas era me colocando em primeiro lugar, quando quem deve ser prioridade É ELA. E eu fui adaptando minha realidade e rotina às necessidades dela. A primeira grande adaptação foi nossa mudança de horário e rotina de trabalho em função de sua criação e da exclusão da terceirização do cuidado: tudo é feito por mim e meu marido.

Teve um texto do final do ano passado onde falei dos comentários que vinha ouvindo acerca das diferenças que eu, supostamente, vinha fazendo entre um filho e outro. Pois bem, eu descobri a diferença que existe: aquela que eu fui e aquela que estou me tornando. E o processo (longo,árduo, lindo e cotidiano) do meio.

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Aí eu fui pra Roda Bebedubem nesse domingo que passou. O tema me atraiu, era inevitável: Dar á Luz, Renascer. Enquanto ouvia a Flávia falando, um filminho do não-parto do Pirulito foi passando. Revi momentos, cenas, detalhes. Questionei algumas coisinhas de novo. Segurei choro que nem uma condenada, olhos marejados turvando a visão. Será que isso um dia passa?

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Mas a Roda não foi só isso. Foram milhares de engrenagens cerebrais funcionando. Foram links e mais links sendo feitos. Mais uma série de constatações, questionamentos, reflexões. Muitos insights, a grande maioria deles relacionados às minhas transformações pessoais, às minhas mudanças enquanto mãe, ao meu empoderamento ou não, a tomada de consciência dos meus processos e da minha maternidade. Foi mais um capítulo da revisão pessoal que tenho feito do meu papel como mãe e dos meus complexos,  materno e paterno. Isso está muito ativo e pulsante em mim. Estou muito consciente e ativa, muito atenta às minhas ações, buscando me corrigir e reconstruir a cada passo. Cada vez mais eu me afasto do modelo rígido e engessado, aproximando-me daquela que quero ser.

Sinto-me mais confortável nessa pele.

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Por fim, conto pro meu pai a estatística do Vale do Paraíba campeão nacional de cesarianas (como se isso fosse motivo de orgulho, humpf!). Vejo olhos verdes vidrados e raivosos por trás dos óculos: "e o governo não faz nada?!?!? Ninguém vê isso? Como isso é possível?".

E em algum lugar da gestação do Pirulito ele disse para que eu me sujeitasse ao sistema...

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Entendeu por que minha garganta dói?

4 comentários:

  1. Queria ter entendido sobre o que foi a palestra. Queria ter entendido qual era o método utilizado no soninho da mais velha e por fim, se vc está gestando.
    Desculpe tamanha desatualização de minha parte, mas só tive tempode ler esse post e vim do geupo Mães e Pais com filhos.
    Abraços e força aí.

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  2. Não sou mãe, não sou esposa, nunca fui...tenho 2 cachorros que trocamos muitos afetos ...aos 51 anos, depois de uma crise com inicio de depressão...meu dramaterapeuta jungano...me indicou ler o livro MQCCL...foi um a contecimento...me vi la ..em cada história, meus sonhos...eu sonhei com minha mãe selvagem...muito emocionante...decidiu fazer psicologia, acho que todas as mulheres tem que conhecer esse livro e se libertarem...se encontrarem...obrigada por repartir um pouco de voce conosco..bjs. Rosimar Elias

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  3. obrigada por repartir suas experiencias conosco. Não sou mãe e nem casada ..acho que foi fruto de muitos traumas com meu pai...ainda estou catando as peças..depois de uma crise no trabalho com inicio de depressão..fui a um dramaterapeuta jungniano..esta sendo ótimo, mas ficou surpreendente quando ele me sugeriu a ler o livro MQCCL, ai eu pirei...eu estava lá, em cada estoria, meus sonhos...um dia sonhei com a minha mãe selvagem...ainda não tinha lido o livro...fiquei tanto impressionada que decidiu fazer psicologia, estou no 1º periodo e adorando...gostaria de no futuro criar um grupo de mulheres para estudar o livro e criar ..sonho

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